terça-feira, 14 de outubro de 2025

As imagens e as palavras


A bem dizer numa distância infinita elas vivem umas das outras. Mas o espaço é que persiste  aqui desde sempre. Ao dizer isto, nalgum lugar  se formam novas imagens e nascem novas palavras. Vive-se disso, portanto, de um dizer sem conta ao largo dos rios do Universo e suas paisagens estonteantes. As próprias horas nisso desfazem seus cantos, suas pulsações. E em seguida refazem  no tempo o instinto de existir, de sonhar quando assim não acontece de seguirem adiante, porém. Palmilham ao Sol e regressam a outras galáxias na mesma intensidade das existências. Em contraste ao silêncio, sobrevivem diante do presente, nisto construindo imagens sem conta, feitas de formas e cores, letras e fôlegos.

Descritas  tais possibilidades, agora resta tão só o ser em si, no deserto imenso de tudo que há e haverá. Nós, a junção desse nada e tudo, em movimento na crosta do Infinito. Expostos às ausências constantes dessa fagulha de estar aqui, sorriem, contudo, aos olhos do definitivo e, por vezes, qual padecem desse motivo original. Longos transes acontecem no pequenino território das almas,cobertas de verdades antes desconhecidas.

Saber-se-á, decerto, aonde reviver esses sonhos inigualáveis de quantos ligados a existir sem propósitos nítidos. Sustentam a lâmina do mistério de contar as histórias ou as aconchegam ao coração. Foram tantos em surgir e desfazer-se em luzes que gritam o sentido disso pelos nos céus e, de uma hora a outra,  mostram a hora da sobrevivência definitiva.

 

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Vozes da noite


Tempos de tantas histórias, e só agora refeitos noutras imagens em movimento. Enquanto isto, nota-se aumento sucessivo na velocidade dos dias, ou nos veículos acelerados que percorrem as avenidas lá fora. De longe, sons esmaecidos preenchem de vazio o silêncio, algo assim dominado de alguém escondido nas esquinas do Universo. Nisto, tantas perguntas querem reaver o crivo dos destinos e pedem justificativas vindas dalgum lugar desse infinito estonteante, misterioso. Busca incessante, pois, de explicações desde sempre. Elas contam das respostas guardadas a sete capas sob ruínas largadas aqui nas ilusões enfurecidas. Estes mesmos seres que ora observam já foram eles próprios doutras vezes, nos princípios. Palavras. Encontros. Lendas. E uma sequência infinita de tais semelhantes a andar soltos na atmosfera dos lugares, eis o resumo deste tudo que ora somos.

Ao somar as quantas versões deixadas no sítio donde viveram, são meros fragmentos desses sonhos e aventuras sem conta que bem desejariam identificar na realidade, porém. Andaram, andaram, até chegar ao mesmo lugar e nem de si se reconhecer do tanto que ali existiram, de tocar tantas vezes, mais e mais, a verdadeira consciência que hoje são. Uns dizem carecer dominar os instintos e transformá-los em essência. Outros relembram as muitas visões do Paraíso que trouxeram consigo e, em seguida, as deixaram esquecidas no passado, enquanto cuidavam dos afazeres mil de sobreviver. Há o que saber, no entanto, disso daqui, pelas luzes da visão.

Habitantes, por isso, do vale das sombras, acreditam escolher a melhor parte e continuam a jornada rumo a isso que os alimenta de viver. Escutam essas vozes vindas de dentro e sustentam a certeza das heranças que supõem transportar na alma. Reflexos desses sintomas inigualáveis de onde procedem, nisto iluminam a imensidão e silenciam, também, as dores que antes significavam estar e partir, ao mesmo tempo.

(Ilustração: Hieróglifos egípcios).

domingo, 12 de outubro de 2025

Outras visões do Paraíso


Isso de persistir aonde rever tantas criaturas espalhadas ao firmamento resume seus significados. Às vezes, feitos de nuvens. Doutras, seres só prisioneiros de tempo e espaço, porém assustados e ariscos. Enquanto as nuvens formam castelos de sombra, os seres olham atentos o que possa acontecer logo no momento seguinte. Ainda que tanto, sustentam as hastes dos céus de modo talvez esquisito, por demais, ou em sórdidos e repetitivos gestos, séculos a fio.

Guardam consigo uma saudade, no entanto. Asseguram vir de um território neutro, onde viveram a luz da consciência e adormeceram sobre as largas aventuras dos cavaleiros andantes. Vivem quase de jeito repetitivo seus ritos sequenciados, a colher histórias que os alimentam dias e dias. Vêm daí as ditas civilizações. Criam instrumentos letais e seguem à procura da sorte nos campos de batalha do horizonte de depois.

Eles, quais criaturas errantes, entes limitados no quanto viver neste chão, sabem sobejamente dos extremos a que se submetem. Mesmo que quanto, de novo esquecem de si e plantam os restos de esperança nas fibras do impossível. Fossem, pois, avaliar cada período da História, teriam de outrora as quantias gastas em perjúrios daqueles protagonistas que preenchem de dor o solo dos contentes e desmancham as ruínas da ilusão com as próprias unhas.

Bom, decerto de aventuras e consequências vivem esses seres. Buscam o que já dispõem nas abas de si, velhos segredos que carregam nos campos afora. Sabem dentro da relatividade do que existe, porém afeitos a sonhos inesperados de mistérios os mais esquisitos. Daí, nascem afoitas palavras, sem limite, feitas de fagulhas dessa fogueira de estar aqui e haver de ser, a qualquer custo.

Bem isto, máculas em movimento pelas trilhas do Destino. Contam, portanto, as fantasias que compõem o quadro onde caminham, o que chamam determinismo. Quando saíram de lá já traziam no íntimo o roteiro completo dessa epopeia que hoje praticam, sábios autores da humana compreensão, todavia parceiros do sentido que aguarda, até trazer de volta a paz do que deseja.

Gustavo Barroso

Havia chegado ao Colégio Diocesano naquele mesmo ano de 1959, quando passara no Exame de Admissão ao ginásio, provindo do Ginásio São Pio X, que, então, oferecia apenas o curso primário. Desde cedo notava a personalidade forte de Padre Montenegro, o diretor do colégio, sempre em movimento pelas salas e ligado aos acontecimentos em volta, que chegaria a mais de 50 longos anos de serviços prestados ao ensino cearense. E naquela manhã do dia 07 de setembro, me chamara a ficar ao seu lado no palanque armado na sacada do Diocesano, no alto das escadarias, defronte à Avenida Duque de Caxias, esquina com a Rua Nélson Alencar. Dali presenciaríamos o desfile cívico-militar alusivo ao Dia da Pátria.

Conto isto porque ao nosso lado, naquela manhã ensolarada, estava Gustavo Barroso, emérito escritor cearense e amigo pessoal do sacerdote. De estatura elevada, moreno forte, calvo, alegre, trajava terno cinza claro e desenvolvia animada conversação com seu amigo e diretor da minha escola. Na ocasião, eu, menino de dez a doze anos, tive oportunidade de ser a ele apresentado pelo Padre Montenegro, junto de quem estávamos. Só mais adiante conheceria algumas de suas obras, hoje clássicos da literatura cearense, quando vim a saber que naquele mesmo ano Gustavo Barroso iria completar seus dias aqui conosco. Agora, lembro com respeito o raro momento de haver visto de perto tão destacada presença, pessoa reconhecida e respeitada nas letras da Língua Portuguesa pelo quanto realizou na pesquisa histórica e etnográfica da nossa gente.

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Gustavo Adolfo Luís Guilherme Dodt da Cunha Barroso  (Fortaleza29 de dezembro de 1888 - Rio de Janeiro3 de dezembro de 1959) foi um advogadoprofessormuseólogopolíticocontistafolcloristacronista, ensaísta e romancista brasileiro. É considerado mestre do folclore brasileiro. Foi o primeiro diretor do Museu Histórico Nacional e um dos líderes da Ação Integralista Brasileira, sendo um dos seus mais destacados ideólogos. Wikipédia

sábado, 11 de outubro de 2025

Estes seres magnéticos


São eras sem conta. Vivem soltos pelals selvas vastas da inspiração e padecem de uma fome constante de se alimentar de si mesmos. Tem de tudo nesse meio onde vivem. As alturas significam, a bem dizer, de um padrão quase absoluto, porquanto querem, mas não conseguem, tocar as profundezas dos céus em cima, no azul. Mas observam demasiadamente essa outra vontade extrema de ultrapassar a Era Cósmica que eles inventaram certa feita, na década de 60 do século passado, e notam haver transmutado em cinzas a necessidade disto. Vadeiam no vento em volta e desfrutam da temperatura das estrelas. Criam animais doutros portes e fogem daqueles maiores que têm presas afiadas e que pensem menos, quem sabe?

Quais seres esdrúxulos querem crer se amar na velocidade das paixões, todavia fazem disso meros romances a vender nas feiras ou nos festivais cinematográficos, além de propagá-los nos festivais de música, de tempos em tempos. Fixam ideias e as desenvolvem na medida dos calendários, sempre acesos, pelas frestas do Infinito. Muitos, muitos, acham-se espalhados por vários continentes banhados de rios e mares. Desenvolvem máquinas de transmitir conhecimentos, porém no meio dessas transmissões pululam iniciativas funestas que machucam de arder o coração da espécie.

Ainda assim descrevem sítios maravilhosos de beleza rara, relíquias, talvez, a serem descobertas lá em futuras escavações nos outros tempos que depois. E pedem clemência aos deuses pelo furor dos instintos que os prendem à consciência em flor. De inteligência por vezes surpreendente, gostam de veículos acolchoados a rodar em pistas caras, cercados de admiradores e futuros clientes. Quanto é bom gostar de ser que tais, espalhados ao vento de tardes primaveris. Acordes suaves das suas canções marcantes as conservam na alma no desejo ardente dos amores inesquecíveis, do que tanto falam e mentalizam.

Por isso, pelas inúmeras experiências dessa espécie surpreendente, edificam castelos valiosos a sustentar os sonhos de chegar, alguma vez, ao país das luzes que saboreiam ao continuar aqui de olhos fixos num futuro quiçá melhor, logo ali sob o fruto das consequências do que estejam realizando agora.

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Esse eu de antigamente


Outro dia, passava na minha mente as presenças dos que insistem andar pelas ruas da cidade apesar do tempo transcorrido das suas histórias aqui, e que foram embora. Fossem ver de certeza, algo acontecera e lhes arrastar dali e que disso nem soubessem, ou não quisessem saber. Nisto, vejam só, entre aqueles também me avistei, mas noutra formulação, a carregar velhas angústias de ser lotado das apreensões lá no passado, desde impaciência de aguentar o que lhe acontecia, independente da minha vontade e dos poderes humanos da ocasião. Aquele seria, (quem sabe?), uma criatura diferente por demais do que hoje sou, nesse instante. Aquele nutria outras histórias, vindas, por certo, dos muitos livros lidos, filmes assistidos, pessoas, amores, saudades, ansiedades a todo o custo e um furor de habitar algum canto desse chão naquele eito.

Quis dele me aproximar, no entanto, sendo quase repelido, a não dizer ignorado. Vivia na própria pele pensamentos de Sartre, Camus, Hemingway, Kafka, Bergman, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Manuel Bandeira, Érico Veríssimo, Machado de Assis, um turbilhão de autores, diretores, dúvidas, personagens, incertezas mil espalhadas pelo vento em volta. Lá dentro dele, um ente raquítico, apreensivo, escondido nas sombras da infância, de afetos raros e interrogações exacerbadas.

Busquei, sem me achegar por demais, reviver o lado bom daquilo tudo, porém qual estrangeiro de mim mesmo, num outro que não mais fosse aquele ali. Sentar juntos, é cogitar, no entanto, de assuntos raros, nem de longe semelhantes aos que ambos pudessem contar então. Outras lendas, novos cenários, uma existência que de nada houvesse de haver entre eles dois.

Mesmo assim, hoje revivo a tal figura daqueles instantes arcaicos, suas vivências, contradições, desassossegos inúmeros, em forma de gente. No meio deles, o véu preto e branco da distância no tempo das duas gerações; duas criaturas exóticas. Ainda que tanto, o reconforto dos reencontros. Vozes vindas tais ecos de florestas imensas, desfeitas em névoa e sonhos. Ele, não mais este eu de hoje, contudo vagas sementes de esperança dalguma transformação no percurso, neste mundo tão vasto de interrogações e ruídos metálicos. E nisto, grata surpresa, em algum se admitem possíveis amigos, conquanto nenhuma outra alternativa viesse à tona naqueles instantes esquisitos de acreditar nos universos de dentro, além dessa igualdade avassaladora do que só agora somos.


quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Pelas ruas da cidade II



O que mais me surpreende é reviver tantas e tantas lembranças ao passar nos mesmos lugares onde antes andei. São muitas as cenas, muitos os personagens; as mesmas histórias que, ali, dantes, aconteceram e as presenciei, ou vivi. Sem tirar ou acrescentar, vejo nisto memórias, trançado de figuras conhecidas lá dos idos anteriores, que agora fincam os pés naquele chão onde pisaram. Nisto, lhes acompanham os desdobramentos, as situações; por vezes ingratas, talvez. No entanto, persistem, ainda que, decerto, hajam seguido a outros planos de depois. A cidade permanece viva desde sempre nalgum lugar das presenças, relatando, horas a fio, os enredos, quais filmes já exibidos nas salas de projeção dali de perto.

Quero crer ser assim com quem insiste andar pelas ruas das cidades onde, noutros tempos, viveu suas ocasiões de estar aqui. Nisto, o que mais espanta são elas, as pessoas que foram continuar ligadas à gente, a uma espécie de sobrevivência de qualquer custo.

Dentre elas, estão amigos, conhecidos, tipos populares, criaturas preservadas nas entranhas, tais habitantes doutros momentos e também destes. Nessa memória viva estariam todos e suas contrições. Viventes perenes daquilo que foram, entranhados pelas vestimentas do tempo ficam existindo. Conquanto se pretenda achar só perante esse contingente de visagens, nos veem indiferentemente, em um arremedo calcado na ausência de, nem de longe, pretender serem avistados por quem quer que seja.

Independente, pois, da estação em que isso ocorra, às vezes cresce no íntimo impressão de ser desse jeito que passam as gerações, e que, apesar das contingências já terem preenchido as paisagens das épocas, delas ficaram a bem dizer daquilo proprietárias inalienáveis.

Porém sinto essas marcas consistentes dessas tais pessoas vagando nas calçadas, nas praças, lugares outros, fantasias em movimento incessante na alma dos seres dagora. Basta apenas fixar os entremeios de casas, comércios, e o traçado das ruas e, dali, os intérpretes doutras ocasiões se fazem presentes sem a menor cerimônia. Quiçá fruto das recordações, dos estilos e sentimentos, cores, sons, fisionomias, daí, na constância dos dias, insistem permanecer e morar lá dentro de cada um que ora exista.

(Ilustração: chat.mistral.ai).

Um tema qualquer


Desses que rodeiam o mundo ao calor das tardes ensolaradas e ferem de vontade o gosto de contar as histórias inéditas do cotidiano; ver as palavras se sucederam quais bichos esquisitos e sumiram no azul dos céus. De quando tudo acontece e quase nada parecer guardado nas margens deste rio, isso numa velocidade a bem dizer imperceptível, que, no entanto, devora os acontecimentos pelos dentes do mistério inevitável. No sítio das vontades o abismo se reveste de tantos afazeres, de antes, e brisa suave parece dizer muito mais daquilo que grita no silêncio, nessa imensidão do quanto anda em volta.

Ali estejam, pois, detalhes sem conta, os tais senhores da liberdade tão só contemplativos ao ritmo do Tempo, criaturas quase inexistentes. Nisso, vem o instinto de sonhar acordado e permanecer de olhos fixos na ausência constante e devoradora. Multidão inteira de quais seres minúsculos, porém, transforma em ruídos mecânicos as horas e desfazem caprichosamente, na força bruta, o que ainda restava nos transforma pouco a pouco imperceptíveis.

Face ao lastro imenso de solidão, conduzem seus barcos rumo ao desconhecido e aceitam de bom grado viver assim. Sei que alimentam virtudes e as fazem crescem copiosamente. Superam desejos e os transformam em fome de viver. Criam, sobrevivem, destroem, construindo logo em seguida, a destruir outras vezes. Talvez cruzem, certa feita, o Infinito e faça dele pequenos instrumentos de sopro. Refaçam novos filmes daqueles que viram lá antigamente. Sustentem o impacto das eras no próprio peito e suspirem fundo, a todo momento, na certeza de seguir a Estrala da Manhã.

Nesse vaivém da sorte, pois, a isto vieram e agora acreditem, além do que nunca, nas verdades que os alimentaram desde sempre. Sim, imbatíveis heróis do firmamento, autores de obras monumentais, astros e estrelas de películas inesquecíveis. Quanto penhor isto de permanecer intactos perante dores e desafios, outrossim cobertos de andrajos e glórias, mas sementes de uma consciência pura, lá um dia.

domingo, 5 de outubro de 2025

As muralhas azuis do Infinito


Marcas foram deixadas lá fora pelos derradeiros viajantes das estrelas, o que hoje são rasgos profundos na superfície de toda criatura que resistiu. Traços a bem dizer definitivos das luas que percorreram nos céus suas entranhas ressurgem, vezes sem conta, nas crateras das consciências. Pedem refúgio às normas do esquecimento e apenas fixam os olhos nas histórias contidas pelas forças do Tempo.

Isto do quanto existe dentro das criaturas, ora transformado em razões de estar aqui, perguntar por si mesmo, juntar os motivos que lhes trouxeram desde então, faz deles seres talvez deixados no mistério das espécies e submersos neste oceano de possibilidades, nas perguntas mil das luzes em movimento. Porém mínimas ausências que persistem naquilo que restou das tantas horas, a ferir de vivências os sons das almas absortas.

Estes que tocam adiante o destino e sustentam planos de felicidade... Motejadores daquilo que antes foram, só assim persistem nas próprias recordações, a fazer disso o senso da presença que conduzem. São muitos, infinitos, por certo, em vultos a deslizar pela superfície dos mementos. Falam vozes arrevesadas, dotam as paisagens de cores surreais superpostas, no desejo de continuar. Criam farpas nos corpos, nas escadas onde avançam a duras penas. Enquanto, ao sabor das visões, apenas distinguem a Eternidade nos entes que sejam e se assuntam de tantos sonhos.

Destarte, entre sentir e permanecer, escutam a música do vento, conquanto saibam muito mais daquilo que ouçam. Isso de guardar as gravações do que houve e viveram define a valer o critério de todos quantos existam. Conservam no íntimo a tonalidade das palavras, os dias passageiros e essa vontade instintiva de permanecer grudados nas abas do Infinito; quisessem, todavia, merecer tal sorte. Ninguém há que escute com clareza plena o ritmo das estações e abrace a leveza de responder às interrogações que transporta ao preço de sobreviver.

(Ilustração: copilot.microsoft.com).

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

A que é que se destina


Se é que se procura alguma coisa... Isto no frêmito das horas, pelas jornadas, enfim, aonde se chegar lá um dia, eis o instinto de
prosseguir a qualquer tempo. Essa a impaciência de obter algo que nem se sabe o quê. As razões de estar aqui na face desse chão das almas, em lugares estoicos, por vezes ásperos, porém sem os limites da inconsequência. Nós, quem quer que seja, então, fragmentos de memórias. Astutos perseguidores da sorte. Aventureiros do mistério. Parceiros abismados de todos os destinos que andam soltos pelos ares. A que é que se procura?!

No entanto, bem que tais, senhores abismados de quantas loterias, tocam o rebanho às próprias interrogações, aos grilhões do Infinito. Olhares a dentro, todavia audazes buscadores das hostes definitivas, espalhadas aos sóis do anonimato. Num instante, por isso, vêm à tona... as indagações consequência das falas das entranhas, gritos pertinentes de causas e justificativas dos gestos quiçá insanos dalguns, no rol das atitudes e dos impulsos do esquecimento.

...

Espécie de buscadores desses objetivos das existências, nunca há de ser tão só espasmos vários o que de quanto acontece nas tantas ocasiões. O rastro disso marca o que lhes traz até aqui o trilho da existência. Um lastro fabuloso de variações, de desejos, que impossível ser-se-ia apresentar motivos que as justifiquem, contudo.

Foram muitas histórias desse personagem inesperado a contar de uma raça aos pedaços de séculos. Encher-se-ia de letras a face do Planeta e mais houvesse de oportunidade a dizer o mesmo tanto. Daí as incontáveis aventuras pelos dias e lugares, na constância do movimento dos afoitos criadores de sonhos. Pisam, sim, as hostes do passado, porquanto ainda não visitaram o futuro. Em acordo consigo, todos vestem o traje do inevitável e tocam adiante o pendor da irreverência. Pisam, correm, voam... Depois, do quanto existe, param ao pulsar dos firmamentos e adormecem nos braços fieis de um sono em profundidade.

(Ilustração: Camille Pissarro).