quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O instante mágico da fotografia

Nalguns sonhos, histórias que, por vezes, se repetem, encontro o objeto que quero fotografar, mas quando aciono o disparador ele trava, cortina emperrada; insisto, sustento a pressão sobre o dispositivo, e só resta impossibilidade. 

Assim nas tantas ocasiões da existência. Tudo converge a realizações, no entanto algo emperraria e nada acontece. 


O equipamento (os trens de fazer retrato) significa apenas as chances do fotógrafo; boa câmera, lente ideal, velocidade, abertura, foco. No outro lado, a vida; luz, beleza, significados, oportunidades, expectativas. Contudo, neste universo infinito entre fotógrafo, máquina e realidade, há que surgir algo novo; o parto do instante; o romper da placenta; a existência inexistente do ser fotográfico, na tela dos resultados; nos filhos da imagem.

A relação entre máquina, homem e vida definira o rosto da fotografia em pedaços recortados, frações que desapareceriam soltas no que passou. Daí o valor inestimável da mecânica fotográfica, que mudou o rumo da história humana. Saber que houve um passado por meio de imagens gravadas atualiza o sentido de responsabilidade, na consciência dos seres. Provar a si mesmo que possui história de sua consciência, a resultante dos dias que vão embora, em forma de documentos da memória material, e impor respeito ao que faz do que permitiram fazer de nós.

Por isso, a força prudente de gravar, na luz do presente, as marcas do que se foi e iluminar os extremos do real, abrir ao infinito a potencialidade de obter respostas de que existirá para sempre aquilo que sairia de cena. Bem nesse ponto, o poder de criação da Arte. 

Através de conter, pois, o fluxo incontrolável do tempo há um pedacinho infinitesimal do passado guardado, sua claridade, seus elementos de saudade, de amizade, sonhos, esperanças, felicidade.

Quando nos sonhos insistiria querer plasmar o momento por meio da mágica fotográfica, e a lentidão do equipamento, ou a dureza do disparador, angustia em não acontecer, representa a fronteira do nada absoluto na hora da resistência em permanecer, quando arrasta ao futuro, nuvens que o vento dissolve pelo ar da existência.

O fotógrafo, qual profeta do tempo que tudo tritura, fixa na eternidade o efêmero, palavra derradeira dos sonhos em que a câmera aceita conspirar e contêm o desaparecimento dos corpos nos turbilhões da Luz.

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