domingo, 6 de outubro de 2013

Hora de esvaziar a lixeira

Há fases na vida em que o freguês lá de dentro mais parece com aqueles lixões a céu aberto que existem nas proximidades das vilas do interior, vazando sucata e espalhando sacos plásticos a tudo quanto é lado. Alimentaria ressentimentos, guardaria mágoas, frustrações, decepções; recalcaria oportunidades alegres, chances de plantar amizades, nutrir boas sementes; e o valente coração transborda o que a memória nem consegue suportar dos prejuízos e das culpas, lançando, à corrente sanguínea, rejeitos sem sentido, matéria acumulada na pouca iniciativa.

Esses tais vícios de intimidade, que preenchem a falta de abandonar ilusões perdidas e sacudir longe os restos podres das experiências, colecionam desenganos quais peças de empobrecimento da personalidade. Viram máquinas de acumular detritos em desuso.

Porém existe uma função fundamental no sistema de viver que significa o comando Esvaziar a lixeira dos programas de computador. Desinteressou a informação, numa ação rápida a máquina se livra no espaço daquilo que já lhe dera o que tinha que dar. Na linguagem dos humanos, esvazia do sistema digestivo a margem das refeições consideradas fora de aproveitamento. Aí de nós se isso não existisse.

No entanto o que se observar fica na casa da necessidade flagrante entre as pessoas, de trabalhar o tal mecanismo de limpeza, cheias de motivos que exercitaram na função de acumular troços, obesidade mórbida dos séculos de acumulação das posses transformada em poder social.
Na dependência da usura, esqueceram de expelir o desnecessário.

E os quartos de despejo costumam andar superlotados de velharias inúteis, sonhos doentes a transbordar nas taças, ferindo o organismo da natureza dos seres inteligentes. Adorar lixões e despejos parece, pois, a disposição de acumular os objetos acima das sociedades sadias.

Imperaria o vício de gastar áreas valiosas da consciência no interesse de se agarrar aos territórios perdidos sem condições de libertação daqueles tóxicos, heróis que sujeitam perde o trilho da história por causa da bagagem imensa que carregam a título de sobreviver ao Tempo.

3 comentários:

  1. Muito real o seu texto! É perfeito comparar o mundo interior dos humanos com o lixão... Magnífica reflexão! Ás vezes dormimos em cima de verdadeiras montanhas de sentimentos vãos... E quase sempre não termos a coragem de sequer pensar em nos libertar deles... Bela reflexão! Muito oportuna em minha vida! Agradecida por ler tão bom texto!

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  2. Sim, Ivonete. Às vezes, temos que limpar as lentes de viver e começar de novo. Abraço de Paz, amiga.

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