Quando Jesus viajava pelo mundo, certa vez, tarde da noite, chegou com Pedro a uma humilde choupana. Traziam os corpos macerados depois de longa travessia. Recebidos com amizade pelos donos da casa, puderam desfrutar das melhores acomodações, de refeição farta e reparadora noite de sono.
Ao raiar do dia, viam-se na estrada a comentar entre si:
– Senhor, que pessoas agradáveis, simples e solidárias – avaliou Pedro, em seu modo extrovertido. – Bem merecem mais do que possuem. Por que, Mestre, não lhes permite a bênção da fortuna, concedendo a elas mais dinheiro e propriedades? – lembrou o apóstolo.
– Mas, Pedro, os haveres nem sempre acrescentam mérito às criaturas, sujeitando-as, em muitas ocasiões, a graves riscos – considerou Jesus.
– Sei disso, Mestre. No entanto acho essas pessoas bem equilibradas e, de certeza, usariam com experiência aquilo que viessem a receber por acréscimo.
Jesus silenciou e seguiram a viagem.
Passados alguns anos, aconteceu de voltarem os peregrinos a percorrer aquelas mesmas cercanias. No lugar da residência modesta da vez anterior, o que avistaram? Uma bela herdade que dominava a paisagem, preenchida de vinhedos frondosos, os melhores de toda a redondeza. Mansão digna dos nobres se lhes apareceu, ao invés da rústica construção onde antes se hospedaram envoltos nas atenções carinhosas dos seus donos. Para lá se dirigiram.
– Ô de casa! – repetiu Pedro algumas vezes no portão principal.
– Ô de fora! – respondeu a voz do serviçal que atendeu após longa demora. – O que desejam aqui? – perguntou. Pediram rancho para ficar na noite de jornada. Em seguida, o homem entrou para consultar os proprietários das terras.
Transcorrido algum tempo, voltou com a resposta. Teriam, sim, o pouso. Daí, foram levados para a estrebaria e instalados de forma precária entre bichos e rações, a algumas braças da casa grande engalanada em grande estilo, prevendo festa naquela noite.
Enquanto improvisavam o leito, os visitantes recordaram do que haviam encontrado na primeira visita àquela casa:
– Jesus, por que mudaram tanto os moradores daqui? – considerou Pedro. – Pareciam bem melhores quando nos receberam da outra vez.
Após leve sorriso, o Divino Mestre observou: - Bem, Pedro, agora que as coisas se mostraram claras aos teus olhos, por tudo isso que observaste, digo que a riqueza sujeita levar à perdição muitos dos seus donatários. Enquanto a pobreza, do seu jeito, pode trazer salvação aos que dela se acham dependentes.
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