quarta-feira, 8 de junho de 2011

As mãos do destino (conto zen)

No Japão antigo, destacado guerreiro conhecido pelo nome de Nobunaga viu-se, certa vez, numa grave dificuldade em que outra alternativa não lhe sobrara além de enfrentar horda de muitos e valentes inimigos, prontos ao combate dez vezes mais soldados do que os que ele dispunha.

Cercado em terreno complicado, cabia-lhe tão só esboçar defesa heróica, sujeita a pouquíssimo êxito.

Nobunaga guardava consigo a certeza de que chegaria à vitória naquela cruenta batalha, opinião essa descartada de todo pela grande maioria dos seus oficiais e soldados, ainda que ele houvesse buscado lhes elevar o ânimo.

Que fez, então? Na noite anterior ao confronto, reuniu os principais da tropa em volta de um pequeno santuário que consigo sempre transportava, e juntos fizeram contrita oração. Depois do instante fervoroso, voltou-se aos aliados e disse:

– Trago dentro de mim que os deuses nos têm na sua predileção. Mas sei que os senhores não comungam do meu sentimento, pois se avaliam em desvantagem numérica com relação ao adversário – escutavam, silenciosos, os homens, envoltos no temor dos vindouros acontecimentos.

– Quero, pois, nessa hora, lhes mostrar, de modo claro, que somos, na verdade, assistidos pelo Poder supremo – dizia isso enquanto reluzia na palma de uma das mãos pequena moeda. – Consultarei, nesta moeda, a voz do destino que nos aguarda. Se ao jogá-la mostrar a coroa, eis o palpite de que amanhã sairemos derrotados. Se, por sua vez, o resultado vier a ser cara, a vitória irá nos sorrir do grande combate. Neste lance, falará a sorte que nos espera ao nascer do dia.

Atônitos com a inesperada proposta, os homens fixaram os olhos naquela moeda que subiu nos ares e rolou riscando demorada trilha no solo, indo pousar no foco trêmulo da lâmpada que clareava o interior da barraca do comando.


– Cara! – em uníssono, repetiram os mais próximos. Depois disso, ânimo fervoroso renovou a alma de todos os guerreiros, que redobraram esforços na intensa refrega do amanhecer.

Antes do meio-dia, a estratégia posta em prática galgara bons frutos. Dotados de coragem, lutaram e dominaram os bravos da outra tropa, levando-os a bater em retirada, máxime a superioridade que desfrutavam.

Terminada a incrível batalha, o segundo comandante, cheio de orgulho, exclamou à aproximação de Nobunaga:

– Ninguém, ninguém seria capaz de desviar as mãos do destino!

– Não, jamais! – respondeu o comandante, enquanto discreto chamava com reserva o oficial e lhe apresentava a moeda, trabalhada de um jeito que possuía igual face duplicada nos seus dois lados.

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