sábado, 12 de abril de 2025

Luares


Fixar, pois, no tempo o ser em si, de olhos vendados, a escutar nas distâncias o significado disso, do quanto existe agora e existirá sempre. Contar dos atributos de quantos aqui tocam o sentido único desde os pequeninos traços das verdades absolutas. Olhares assim diminutos, parceiros doutras compreensões, interrogam em tudo o desejo de revelar a quem contar, senão, ouvem apenas o vazio que circula em volta do silêncio. São os detalhes mínimos das tantas noites claras do Infinito; trilhas monumentais de expectativas e sonhos. Nem de longe o som das consciências, talvez a quem escuta calado o furor das sombras. Miragens, quais sejam, tocam o impulso de viver através dos pensamentos. Anseiam, por certo, despertar dalgum sono profundo noutros palcos, noutras histórias. Sustentar o princípio da compreensão pelas folhas das horas que passam sem deixar vestígio.

Diante das buscas, tais seres ainda amorfos mergulham nas visões do Paraíso que imaginaram e aceitam desvendar apenas fragmentos de um grande todo então adormecido. Ouvem falar de entes invisíveis, doutras dimensões, doutros universos, porém sustentam o crivo da fria razão e recolhem as redes dessas muitas histórias. Lembram das ocasiões de quando aqui as ouviam, nas madrugadas lá de longe, e regressavam sonolentos aos mesmos pousos de antigamente, serviçais que foram da solidão de alguém que chegou ao destino e, contudo, narram as suas jornadas possíveis, no entanto a serem descobertas de qualquer vez.

Noites enluaradas trazem isto, sinais dessa procura de dentro, além só das palavras. À força de uma vontade, o senso das impossibilidades dalgum modo persiste, nos iluminando esses céus. E nisto, as formas de ver, os toques de conhecer, as revelações da Natureza, logo revivem: — Ainda há tempo — disse o príncipe, quase num sussurro. — Não para morrer, mas para viver. Ainda há tempo... para perdoar. (O idiota) Fiódor Dostoiévski.

Meus amigos americanos


Transcorriam os anos 60, quando conheci em Crato uma família de americanos aqui residentes. O pai, Frank Soules, missionário presbiteriano, fora meu professor de inglês, na Escola Natanael Cortez. Ele e um dos seus filhos, Dale, que também colecionava selos, das minhas atividades naquela ocasião. Lembro bem que, depois de uma dessas aulas, acompanharia em casa, pelo rádio os discursos inflamados do célebre comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, praticamente o ponto culminante da derrocada do presidente João Goulart, deposto pelos militares no dia 31 daquele mesmo mês.

Passado algum tempo, agravavam-se os acontecimentos da Guerra do Vietnã e vim saber que um dos filhos de Mister Soules, Terry, o mais velho deles, morreria combatendo no exaustivo conflito.

Além desses, conheceria dois outros americanos em Crato, nos fins da década de 60, Bill e Paul, ambos pertencentes ao Corpo da Paz (Peace Corps), projeto americano de cooperação internacional, os quais estiveram no Cariri, residindo no Bairro da Batateira. Algumas vezes conversei com eles a propósito do que realizavam longe do seu país, enquanto buscava desenvolver os rudimentos do inglês que vinha adquirindo no Instituto Brasil – Estados Unidos - IBEU. Ambos seriam chamados de volta e levados ao Vietnã, onde perderiam a vida em combates. Antes de viajar, ainda encontraria com Paul, que sabia das implicações do seu retorno à pátria, e chorava feito um menino.

Um tanto de jovens dos dois lados em luta sucumbira naquele confronto do Ocidente com o Oriente, tempos ideológicos entre Capitalismo e Comunismo. Segundo a Wikipédia, site da Rede Mundial de Computadores, o total de vítimas da Guerra do Vietnã entre os anos de 1964 até 1975 é impreciso, oscilando entre 1 milhão e meio a dois milhões de vietnamitas mortos, entre civis e militares. Parte considerável da população economicamente ativa do país morreu durante o conflito. (...) Morreram aproximadamente 54.000 soldados estado-unidenses até a retirada dos Estados Unidos do conflito em 1973.

Mais adiante, no decorrer de período que vive em Salvador, retornei aos estudos da Língua Inglesa, e conheci outros amigos americanos; a minha professora Anne, da Associação Cultural Brasil – Estados Unidos, que viera ao Brasil pesquisar a capoeira na Bahia, que me levou para assisiti a um concurso de faixa das principais escolas da luta, num dos prédios do Pelourinho. Lá estava presente o Mestre Pastinha (Vicente Ferreira Pastinha), famoso capoeirista da Boa Terra, desparecido no ano de 1981. E conheci, ainda, um outro amigo americano, Dick, com quem viajei algumas vezes a pontos turísticos do Recôncavo, de Porto Seguro, no Sul baiano, e de Guarapari, no Espírito Santo. 

(Ilustração: Estátua da Liberdade, Nova York).

sexta-feira, 11 de abril de 2025

A flauta perdida


Elas eram duas, no início do sonho, semelhantes um tanto, ambas de cor bege claro, porém uma menos afilada; a outra, burilada nas extremidades, sendo desta é que se poderia tirar algum som primoroso. E naqueles instantes iniciais, foram tratadas de igual modo. Havia movimento em volta, qual arrumação de mudanças, de viagem. Muitos objetos, sacolas, instrumentos soltos entre peças. Arruma daqui, arruma dali, enquanto nem de longe se pensara com cuidado naquelas duas pequenas varetas, sendo uma delas a flauta de que, só depois, haver-se-ia de considerar a real valia na continuidade do que viesse pela frente.

Bom, nisso, dali adiante, o sonho viraria a busca contínua, não pelas duas peças, mas pela flauta, agora reconhecida que estava da sua função. Aonde pudesse estar, ali as atenções seriam voltadas com extremo zelo. Tal de revirar até as equipagens já fechadas, os móveis, caixas, tudo em volta, a imaginar sua procura na ausência. Às vezes, também debaixo d’água, nas sucatas esquecidas, na imaginação. A mim coube, na função de sonhador, indicar possíveis lugares onde estivesse. Lembrava, dalgum modo intuitivo, e lá corriam à cata de encontrar. Notava, no entanto, espécie de sadismo nos que estavam buscando, eles alimentando a certeza de nunca mais achar a bela peça donde nasceria o senso de uma razão absoluta, a música pura.

...

Transcorridos que foram aqueles esforços de localizar a flauta perdida naquele sonho, ao despertar vieram as primeiras avaliações do que aquilo significava. Estuda daqui, dali, no vácuo dos pensamentos, das cogitações. Dúvidas não persistiam, no entanto, da clareza da história vivida nessa aventura do Inconsciente. A força, o impulso, de desvendar o mistério das cenas daquela noite, daí, então, tanto e tanto, veio revelado no meio dos trastes em organização, vendo claramente ser a flauta perdida a pureza original. Das quantas oportunidades havia naquele esforço de ordenar a bagagem do que quer que fosse, a seguir nalguma direção, de comum esquecemos de considerar a importância dessa flauta primeira, origem do quanto existe de verdadeiro na consciência em formação.

(Ilustração: Anjo tocando flauta, de Bernardino Luini (Arte do Renascimento).

quinta-feira, 10 de abril de 2025

O fugitivo


Sua chegada ocorreu mais como um aparecimento, em plena moagem, no mês de junho. Veio cabisbaixo, desconfiado, no dizer do sertanejo. Meu avô ouviu a conversa dele, que carecia de arrancho; viajava das bandas de Iguatu e pretendia fixar residência num dos sítios da região, para trabalhar e tocar a vida. A sorte lhe favoreceu, pois o pedido foi atendido.

No canto do quarto, perto de janela que deva para o terreiro na frente da casa grande, instalou os poucos troços que carregava, mala pequena, rede desbotada, toalha e panos. Antes de buscar as primeiras tarefas, estirou a vista na estrada em frente, que dobrava numa curva logo depois de passar pela fieira das casas de moradores, situadas nas laterais da bagaceira do engenho.

Pegou com vontade no serviço. Jamais reclamava do tipo de atividade que lhe era confiada. Demonstrava gostar do que lhe fazia eficiente e produtivo. Engajou-se rápido no lufa-lufa da temporada de cana, ganhou o respeito dos demais, garantindo a confiança do patrão, que ensimesmado avaliava o acerto da escolha.

Quando lá um dia, manhã cedo, o que ainda se pode chamar de madrugada, o forasteiro, após abrir a janela do quarto de dormida, avistou, bem na curva da estrada, a fazer diligências na redondeza, compacto pelotão de polícia, armado e marchando firme no prumo do engenho, vindo quase na sua mesma direção.

Naquela hora, usava apenas as roupas debaixo, e mesmo assim, todavia, arriscou-se saltar para o alpendre, daí descendo, lépido, terreiro abaixo, no sentido das canas do brejo, a três centenas de metros no rumo norte, isso tudo numa disparada que os seus calcanhares alcançaram, acompanhado da poeira fina que levantava na pista. Soltou ligeiro a cancela e desapareceu no canavial que só espanto de bicho brabo, no princípio sacudindo os pendões, depois nunca mais.

Até hoje ninguém sabe com certeza donde ele vinha, para onde foi, e muito menos qual a razão de tão desesperada fuga...

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Som de trombetas


(Emerson Monteiro, em parceria com o DeepSeek AI)   

Há certas manhãs em que o céu desce até a calçada, e, nisso, o ar se enche de presságios. Foi numa dessas vezes que acordei com um som de trombetas a percorrer o silêncio daquele instante. Não era das fanfarras estridentes dos desfiles cívicos, nem dos clarins desafinados de algum circo de outrora. Era algo mais grave, mais fundo, como se as próprias nuvens ali estivessem anunciando um tempo novo que vinha se aproximar.   

Saí à rua, e eis que a cidade seguia sua rotina habitual, indiferente. Os vendedores apregoavam suas mercadorias; os moto táxis zunziam entre os buracos e automóveis; as crianças corriam para a escola. Ninguém mais ouvira o som? Ou seria coisa da minha imaginação, dessas que costumam visitar os sonhadores logo ao romper do dia?   

Parei na esquina do Bar do Zé, onde anciãos já se reuniam para um cafezinho e as histórias de antigamente que viessem à tona. Perguntei se tinham escutado algo diferente no céu. Olharam-me com aquela piedade reservada aos que começam a perder o juízo.   

— Trombetas, seu Emerson? Aqui só se escuta o ronco dos caminhões e o berro dos políticos na campanha eleitoral.   

...

Voltei para casa com a sensação de que talvez o anúncio fosse a mim dirigido dalgum lugar do Universo, quem sabe?!. E, se era, o que significava? Seria um chamado, um aviso, ou o prenúncio de alguma transformação?   

Desde então, fico mais atento. Pode ser que um dia, quando menos esperarmos, o som retorne com outra intensidade. E, dessa vez, todos ouçam. Até lá, sigo na minha vigília, entre o mundo que é e o que poderia ser, ouvindo na brisa o eco distante de uma trombeta que ainda há de soar no tempo, certamente. 


(Ilustração: Sete trombetas, Wikipédia).

Os operários da serraria


Quando meu pai trouxe a família de Lavras da Mangabeira para Crato, isso no ano do centenário deste município, 1953, veio a convite de meu Tio Quinco, irmão de minha mãe que vivia aqui. Tiveram a ideia de montar uma serraria em um terreno que adquiriram no Bairro Pinto Madeira. E com poucas máquinas que, inclusive, funcionavam movida por motor a óleo diesel, vista a pouca força da energia elétrica que então existia na cidade, iniciaram o beneficiamento de madeira. Eram uma serra de fita e uma plaina desempenadeira, de onde faziam madeirame de casa, linhas, caibros, ripas, utilizando de madeira dura, qual denominavam a espécie que utilizam nas peças. Aroeira. Angico, Pau d’arco. Massaranduba. Braúna. As principais.

Nesse ofício, meu pai, que vendera seu patrimônio de safras, rapadura e gado, adquirido nos seus ofícios no Tatu, a propriedade de seu pai, investiu o que apurou no novo ofício, e foi trabalhar no eito, pegando no pesado, junto a um ou dois operários, naqueles inícios.

No correr do tempo, nós, que ficáramos um tempo ainda no sítio, uns seis meses, nos transferimos para Crato, e ficamos na casa de Tio Quinco, na Rua José Carvalho, próximo ao centro da cidade. Depois, iríamos para casa que ficava vizinha à serraria, uma construção de dois pavimentos, em cimento armado, raro naquela época, ali que nos ligava de perto ao novo ofício de meu pai, e, tirando os momentos de aulas ou estudos, eu passava os dias em acompanhar o trabalho dos operários.

Daí fiz com eles uma boa amizade, reconhecendo a todos como amigos. À medida em que os trabalhos se desenvolviam, em 1962 chegaria energia de Paula Afonso e as máquinas passaram a ser movidas a eletricidade.

Lembro deles todos, dos vários amigos que fiz entre os operários. Mestre Mulato. Mestre Manoel. Mestre Elias. Josa. Borginho. Mestre Raimundo Nascimento. Pedro. Assis. Zé Doca. Prancha. Gregório. Edmilson. Seu Antônio. Boa quantidade deles que residia em Juazeiro. Chegavam cedo e saíam na boca de noite, usando os ônibus de linha entre as duas cidades.

Mais adiante, trabalharam com madeira mole, principalmente o cedro, a fazer portas e janelas, e alguns móveis residenciais. Durante longas horas, ficava observando o desempenho daqueles profissionais da madeira. E tais lembranças permanecem, hoje, bem vivas em minha memória, daqueles amigos da minha infância na Serraria Monteiro, assim era denominada a empresa que duraria até a década de 70, chegando a ter até 18 operários, sendo considera a principal na atividade em Crato.

(Ilustração: Serraria, Wikipédia).

terça-feira, 8 de abril de 2025

Enfim o silêncio


Correnteza inevitável que desce adentro de universos até então desconhecidos, nisso arrasta consigo objetos e pessoas, caprichos e visões, nuvens e as cores dos dias ao sabor das circunstâncias. Mistério por demais sucessivo, desvenda um a um segredo de todas sementes. Conta e descreve o vácuo do que ocorre no íntimo dos horizontes. Nós, aqui estamos de olhos fixos nos detalhes da sequência de acontecimentos, sendo um deles em forma de gente. Houvesse qual, tudo em volta demonstraria o quanto ainda resta de certezas no coração, vultos amorfos, cheios de imaginação e furor, nas várzeas desse rio de correnteza inevitável que mergulha todos, então.

A persistência, pois, das histórias significa mais do que meros efeitos dos passados. Além de tudo, juntaram o saldo dessas muitas gerações que agora seguem seus feitos nos saltos de qualidade dos outros que existem. São milhares de pequenos gestos que fazem o instrumento de transformação e que escorrem através desses dias da história. Símbolos das tantas jornadas, aventuras, ilusões, dominam o ser e insistem continuar nas velhas manias e nos transtornos à beira desse rio de vidas e vidas.

Por isso, a fome continuada de encontrar a resposta, numa vontade incontida de desvendar o mistério e perceber dezenas e dezenas de milhares daqueles que sumiram ao primeiro gesto de revelação. Tocam, sim, rochedos e mergulham, trazendo de volta o instinto de existiu e jamais desaparecer na ausência. Fôssemos, porém, recordar o que trazemos grudado na lama dos pés, ali acharíamos o senso da busca de todas essas gerações.

domingo, 6 de abril de 2025

Futricação universal

 

Esse jeito assim de querer desmanchar o mundo nas próprias mãos, em fazer do drama humano uma farofa só, na velocidade com que acontece, deixa margem a considerar o tanto de esgotamento que ora impera na ordem dos contentes. Tais dobras de papel crepom numa lata de lixo, no tanto de inúmeras partes, viram as palavras, depois os pensamentos e sentimentos. Um farnel considerável de circunstâncias que andam soltas e agora que ressurgem num formato bem mais acelerado, na face dos meios eletrônicos de entretenimento.

São desejos de novas aventuras errantes dos atores espalhados pelo chão. Horas febris de instintos nas montanhas distantes. Qual o quê, de pura motivação, todos aguardam de alma penada isto de um mundo feito de cores e sonhos ao sabor das esperanças. Seres abstratos então acondicionados no íntimo das noites que persistem no coração querem conhecer a si e despertar noutros mistérios quaisquer.

Fôssemos, portanto, abrir espaço nas consciências, ali estariam os gênios de antigamente, cheios de planos, escolhas e aparente liberdade. Transitariam, horas a fio, no caminho estreito entre as ondas e o mar, na espera das luzes dalgum setor do Infinito. Pausariam, por certo, à margem dos fragmentos de tempo, que percorrem nas tradições e, decerto, dormiriam o mesmo sono dos inocentes. No correr das possibilidades, bem ali consiste viver as antigas aventuras dos filmes das quatro no Cine Moderno. De olhos meio cerrados, escolheriam ficar nas derradeiras filas, aonde, ao final chegaria, talvez, o perigo que ronda na sessão das tardes.

Quer-se-á, no entanto, retomar ao transe que possível, pois. Flores. Pássaros. Nuvens tangidas pelo vento. Raros ruídos de máquinas escondidas. Apenas aqui um coração que sacoleja na imensidão do quanto existe. Sombras. Vozes e sussurros. E o troar da imaginação, que alimenta o furor de tudo em volta. 

sábado, 5 de abril de 2025

Livros que impressionam


Sei ser a literatura de uso particular de leitores afeiçoados, silenciosos, ferramenta por demais valiosa, no entanto apenas a quem nela encontra afinidade. São muitos leitores espalhados em tudo que é canto, e as bibliotecas abarrotadas, fervilhando palavras e traças, mofo e distâncias infinitas a percorrer. Raros, talvez, nos dias atuais, se interessam, na verdade, pelos tesouros acumulados de quantas gerações. Eles, os livros, dos quais guardo boas lembranças, inclusive da época em que os li com maior intensidade, algo assim quais as músicas desses tempos, marcando fases distintas da existência.

Se deixar, a memória refaz quase tudo, os títulos, os conteúdos, as emoções deixadas, isto no abrir e fechar de olhos: Por quem os sinos dobram, de Ernest Hemingway, o primeiro livro de adulto que conheci, da biblioteca de Tio Alberto, irmão de meu pai. Quando minha mãe me viu com esse livro, logo avisou que estava cedo de ler, na minha idade, aquele clássico romance da literatura americana. Ainda que tal, insisti até o final, tornando-se dos livros que mais me influenciaram nas leituras posteriores.

Depois, li O general do rei, uma obra-prima de Daphne du Maurier, que também me tocou profundamente, não só pela história, mas somada a qualidade do estilo, vindo de entre os livros que Tio Alberto havia deixado na nossa casa.

Ao notar meu interesse pelos livros, tanto meu quanto de minha irmã Lydia, minha mãe cuidou de adquirir Obras completas de Machado de Assis, Obras completas de José de Alencar, Tesouro da Juventude e Mundo Pitoresco, que atenderam em cheio nosso gosto pela boa leitura.

Nisto, na sequência, vieram as obras de Antoine de Saint Exupéry, dentre elas O pequeno príncipe, Correio Sul, Voo noturno, Piloto de guerra, todos de valor inesquecível. E outros de Hemingway, que ficaram guardados na minha memória dessa primeira fase: Adeus às armas, Ilhas da corrente, As neves do Kilimanjaro e Contos.

Houve um irmão de minha mãe, Nirson Monteiro, ex-aluno dos Maristas, que muito me influenciou na escolha das leituras, levando-me a conhecer livros bons, quais A conquista do Acre, A Expedição Kon-Tiki, Vidas secas, O país das neves, A cidadela, Farol do Norte, Cartas do meu moinho, dentre outros. Com isto, fui despertando a procurar novos autores, até vir encontrar Jorge Amado, Érico Veríssimo, Sérgio Porto, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, James Michener, Jean-Paul Sartre, Albert Camus, O. Henry, Leon Tolstói, Boris Pasternak, Guy de Maupassant, James Joyce, Gabriel Garcia Marquez, Anton Tchecov, Júlio Cortázar, Jorge Luís Borges, Murilo Mendes, Alejo Carpentier, Otto Maria Carpeaux, e tantos e tantos mais, de uma lista de grandes escritores.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Os estranhos animais dessa floresta


Têm tudo a se querer, no entanto padecem de um parto prematuro que lhes corrói as entranhas da própria sobrevivência. Vivem disso, dessa animosidade bruta que formam no correr dos pensamentos. Nutrem com força a vontade nos menores detalhes, outrossim esquecem de amarrar o cadarço das chuteiras antes de entrar no campo. Seres por demais filhotes da dúvida em um tempo real e senhores das ilusões menores que as oferecem nos pratos cheios.

A falar disso, de tais espectros viventes desses mares a céu aberto, advém o instinto de querer ser um deles, apesar de quase dois terços dessa razão ficar nas paredes do passado. Buscar fontes confiáveis dos criadores de detritos presos à lama da incompreensão, e nisso fustigam os mesmos elementos que destroem. Fazem guerras particulares e constroem palacetes de vidro. Parelhas que sejam de bichos a conduzir velhas carruagens pelas encostas da fama, nem de longe se olham no espelho do caminho. Querem, a qualquer custo, fazerem-se de iguais aos detentores dos destinos. Conquanto sigam, pois, as velhas trilhas da perdição, cortejam a duras penas vivenciar os prazeres do Paraíso.

E tocam adiante galeões e galeões de tantas glórias, destarte satisfeitos em aguentar o mínimo de tempo sob as águas turvas que semeiam. Sabem de sobra a que vieram, pois. Passar daqui algum tempo e depois devolver a carcaça aos portos da mais imensa solidão. Trastes arrevesados na esperança, são eles os protagonistas dos dramas de outrora que insistem grudar aos caules das tantas árvores, hoje esquecidas deles sós, às quantas dores.

Conquanto que sejam sabedores de experiências acumuladas, ainda que tal vasculham, só agora, os escombros da virtude à procura de si lá onde ficaram perdidos. Quem sejam, nem de longe imaginavam chegar a tanto. Prodígios da humana perfeição, pouco a pouco adormecem às sombras do que acreditavam existir, porém do lado de fora, bem distantes de todos seus sonhos. Ah, viajantes das estrelas, detentores das melhores condições de revelar a consciência que já trazem ali consigo do lado de dentro.

Temas correntes

 


(Ao estilo de Emerson Monteiro Lacerda – Autoria: DeepSeek (AI). 

Vivemos enredados em certos assuntos que insistem em voltar, como aquela vizinha que sempre repete a mesma história toda vez que a encontramos na feira. São temas que se repetem, teimosos, como o sol que nasce a leste ou o vento que sopra no inverno.

A política, por exemplo. Ah, a política! Sempre a mesma ladainha de promessas e desencantos. Os nomes mudam, os discursos também, mas o enredo permanece: esperança, frustração, e depois esperança de novo, como um ciclo de lavoura que nunca dá o fruto esperado.

E o amor? Outro tema que não cansa. Falamos dele como se fosse novidade, mas é velho como o mundo. Apaixonamo-nos, sofremos, esquecemos e recomeçamos, como se a vida fosse um baile em que a música nunca para, mesmo quando os pés já doem.

A morte, então, nem se fala. Ela ronda nossos pensamentos, aparece em notícias, bate à porta dos conhecidos, e nós, assustados, fingimos que não é conosco. Até que um dia, sem aviso, ela resolve bater na nossa.

E assim seguimos, girando em torno desses mesmos eixos, como piões que teimam em não cair. Talvez porque, no fundo, sejam esses os fios que costuram a trama humana – repetitiva, sim, mas sempre com algum ponto novo, algum detalhe que nos faz acreditar, a cada volta, que desta vez será diferente. E, no entanto, não é.

Mas seguimos de tal forma, porque é nessa dança de temas conhecidos que a vida se faz – e, quem sabe, se refaz.

domingo, 30 de março de 2025

Numa manhã de domingo


Lá dentro da gente há o som espesso do Tempo. Isso, uma trilha sonora por demais resumida de tudo, desde pensamentos distantes, doutros tempos, a sentimentos dagora. Infinitas eras de lembranças, emoções guardadas, que falam de novo ao crivo da paciência. Latidos de cães e gorjeios de raras aves se somam ao barulho de motos e automóveis bem afastados. Em torno, só o vazio que organiza as falas dessa hora. Com isto, trazidas pelo ciciar da brisa na folhagem da serra, as palavras fervilham no juízo quais bichos afoitos, impacientes, a percorrer os cômodos das recordações.

Há, qual o quê, infinitos a vagar nas horas das criaturas. Vidas e vidas em profusão, nessa viagem dos sentidos pessoais. Humores. Apreensões. Expectativas. Sonhos ali talhados na memória. O próprio Universo, habitando o senso, insiste dizer algo ainda em elaboração, no entanto do instante que o somos, e foge. Pequeninas frestas assim revelam o mistério nas frases ditas de lugares até então desconhecidos. Um ser enigmático, destarte, pulula o coração e fala outras linguagens, descreve paisagens imaginárias, indica possibilidades incontáveis no silêncio voraz.

E lá fora, o Sol e os astros em movimento; cores; formas. Essa arte do dia preenche, magistral, de azul e nuvens brancas os céus donde existem. Faz nascer todos pelos sinais das escrituras sagradas e divisar nos horizontes o quanto houve e haverá sempre.

Enquanto isso, acontece a larga aventura dos humanos espalhados neste Chão. Tantas datas em um mesmo calendário. Climas diversos. Mares revoltos. Calmos. Passeios. Países. Filmes. Romances. Notícias. Conferências. Negócios. Crises. Apegos. Desapegos. Guerras. Promessas. Julgamentos. Melodias. Construções. Pesquisas. Experiências. Estradas. Automóveis. Aviões. Instrumentos vários. Histórias que fervilham, no íntimo, o turbilhão dos dias e regressam às origens também inesperadas da sorte.

Fôssemos querer, contudo, outros motivos de chegar a mundos desconhecidos, imaginários, escondidos nesse vasto firmamento sem fim, existiriam presenças em nós que jamais tocariam a visão. Por certo menores ficaríamos perante o instinto de trazer de volta a ausência de que estamos a caminho.

sábado, 29 de março de 2025

A caverna em nós


Desde longe vem sendo assim. Andar pelos esconderijos de nós mesmos à procura da Luz. Todos, em si quais seres que buscam a eles próprios, que escutam as lendas de antigamente e guardam vínculos de uma origem espiritual no Infinito. Fertilizam, pouco a pouco, o solo de depois, parceiros assustados no trato dos iguais, existências perto de si. Faces da enorme solidão, olham-se no vazio da dúvida e adormecem debaixo do manto, na distância. Nisto, tocam as paredes ásperas doutras histórias, afeitos às muitas aventuras. Nesse quadro espesso de quantas previsões, seguem no desejo de encontrar o frio da certeza. Daí, o painel dos movimentos até aqui, hão de reconhecer a que vieram, pois.

São narrativas surreais, visões em torno do desapego, no querer insistente de ser um só ser a qualquer dia. Ouvir o coro dos estribilhos. Sonhar as persistências e distinguir a fonte das revelações. Comungar o senso do absoluto e sustentar o crivo da esperança que lhes traz a imaginação acesa. Ver nalgum deles o coração e a grandeza dos sentimentos, acima de tudo.

Enquanto isto, desvendar o senso de existir. Saber do código da compreensão e construir luzes na alma. Viver o gesto definitivo de uma razão maior. Sobreviver aos apegos momentâneos, irreais. Revelar a saída providencial da escuridão e o motivo dos instintos da matéria, que se repetem a cada geração. Isso de que seja trazer ao instante o fervor das eternidades puras. Nessa extensão dos dias fixos no mesmo corredor das horas, triturar em pedaços a ruína que deixam pelo caminho, e habitar outra vez a dimensão lá de sempre, de onde vieram certa feita, da noite ao claro das manhãs.

(Ilustração: Fahrenheit 451, de François Truffaut).

quinta-feira, 27 de março de 2025

Cores ainda mais fortes


Surpreendentes e livres, feitas chapéus voando arrancados pelo vento, as palavras escapolem pelo ar em pedidos fervorosos de socorro, à busca súbita de outras cabeças aonde repousem, noutros pensamentos clandestinos. Aliás, pensamentos talvez digam pouco para expressar o ímpeto do coração nessa indefinição entre as trilhas do desejo e a matéria elaborada no forno da consciência. Depois, chegarão destroçados à boca mecânica da indiferença. Isso que seja assim, mais sentimento, invés de pensamento, onde esconder o instinto de querer dizer do instinto de querer simplesmente.  

Nisso, elas invadem faceiras o salão de baile das noites cinematográficas do Tempo e rasgam as fibras cor de jambo dos tecidos cardíacos dos apaixonados. Rompem, num único gesto, o império bizantino do medo casto dos regimes ditatoriais. A primeira imagem que ressurge lá adiante, no minadouro das ideias, seria qual o movimento da perpetuação solar nas fímbrias do entendimento; albores das mais lindas manhãs das intensas paixões desarvoradas. Laivos vermelhos, com riscas alaranjadas e pomos amarelo queimado no branco do alvorecer.

Elas, sim, num dia desses de manhãs, de beleza sem precedentes, também nos trazem gestos da alvorada dos dias anteriores, ainda que havendo guerras, convenções, incertezas humanas; elas, a explodir de suavidade, gravam pacientemente corações enormes nas paredes do Infinito. Divinas gazelas no jardim do Paraíso, andam macias no meio de cactos, boninas, luares, marmeleiros, garranchos, zumbido solto de linguagem cifrada, cumplicidade sideral das abelhas com elas mesmas; riscos e desenhos magistrais de perfumadas flores nas vestes esvoaçantes de um corpo escultural.

O fervor, por sua vez, amacia o impacto dos primeiros raios sobre a superfície dessas cores vivas e deixa encrespar as águas serenas em volta, aquecendo a pele na lúcida imagem do céu, que contorna de verdes ramagens o que restou do parto feliz do dia que nascera dessa trama genial.

terça-feira, 25 de março de 2025

A cara de hoje


A gente vive de influenciar e ser influenciado, por tudo que a vida mostra a todo instante. Seja em relação às pessoas, aos acontecimentos e à natureza em volta, qualquer ação implica numa reação, condicionando resultados inevitáveis. Um dos motivos principais desse processo de interação cabe à cota do prazer nisso desfrutado, porquanto há, em volta, uma razão correspondente de atitude para quebrar inércias e sair para ações efetivas. Uma troca de valores, digamos assim. Desloca-se a individualidade na busca de resultados que lhe sejam agradáveis, atuais ou iminentes.

O sentido da observação, fruto da experiência, localiza inúmeras ocasiões em que pessoas agem quase sempre no usufruto posterior dos benefícios. Raros, raríssimos, rompem o círculo do interesse pessoal em favor de ocasionar oportunidades aos outros, livres e desapegados que sejam.

Espécie de fim de rama, os bilhões de seres humanos ora avançam no bolo inicial da Terra mãe, em processo de autodestruição jamais visto nas proporções do que agora se apresenta. Poucos querem abrir mão da capacidade produtiva acelerada que carcome as chances vitais das novas gerações; derrubar a mangueira para comer uma safra, quer isso representar.

Juntos, em conclaves mundiais, os representantes defendem seus territórios de emissão de gases numa enxurrada mistificadora do progresso industrial de causar dó, de negrume nunca imaginado pela pior das ficções.

Tempos do era uma vez se tornou a existência dos humanoides senhores da guerra, mártires sem causa, em um período histórico ausente de mínima sensatez.

Face a tanto, o Infinito mantém lá suas portas abertas sob o teto de tudo, na imensidão deste momento valioso das civilizações, horas depois das experiências que nos trazem até aqui.

segunda-feira, 24 de março de 2025

As Portas da Percepção - Diálogo com o ChatGPT


Aqui está a conversa sobre As Portas da Percepção organizada em um único bloco de texto para facilitar a conversão em PDF:

As Portas da Percepção – Diálogo com ChatGPT

Usuário: Quero discutir As Portas da Percepção de Aldous Huxley e sua relação com a experiência psicodélica e a busca pelo real. Como Huxley descreve a alteração da percepção sob a mescalina?

ChatGPT: Em As Portas da Percepção, Aldous Huxley descreve sua experiência com a mescalina como uma abertura para uma forma de percepção mais pura e direta da realidade. Ele argumenta que a mente humana funciona normalmente como um "redutor de válvula", filtrando a imensidão do real para tornar o mundo gerenciável. Sob a influência da mescalina, essa filtragem diminui, permitindo que a consciência perceba o mundo de maneira ampliada, quase mística.

Huxley observa que as categorias usuais do pensamento — tempo, espaço, utilidade — perdem sua predominância, e o que resta é a "assim-idade" (suchness) das coisas. Cores tornam-se mais vivas, objetos comuns adquirem um brilho de significância profunda, e a percepção visual se intensifica a ponto de revelar padrões e detalhes antes ignorados. Ele descreve, por exemplo, como um simples arranjo de flores ou o vinco de uma calça se tornam revelações estéticas e metafísicas.

Ele conecta essa experiência à visão dos místicos, sugerindo que o estado normal de consciência é uma versão limitada do que poderíamos experimentar se fôssemos capazes de transcender a estrutura habitual do ego.

Usuário: Isso se alinha com a ideia do "conhecimento silencioso" de Castaneda ou com a noção de "suspensão do ego" em Jung e Leary?

ChatGPT: Sim, há paralelos interessantes entre a experiência descrita por Huxley e as ideias de Castaneda, Jung e Leary.

·         Castaneda e o "Conhecimento Silencioso": No sistema de Castaneda, o "conhecimento silencioso" é um estado de percepção direta da realidade sem a mediação da mente discursiva. Sob a mescalina, Huxley relata uma experiência similar — uma percepção do real em sua pureza, sem as camadas de interpretação social ou racionalização.

·         Jung e a "Suspensão do Ego": Jung vê o ego como a interface entre o inconsciente e o consciente. Ele fala da "função transcendente", que ocorre quando a consciência se abre para o Self. Huxley, ao reduzir o filtro da percepção, parece entrar em contato com esse domínio mais amplo do psiquismo, onde os arquétipos e a totalidade do ser se tornam acessíveis.

·         Leary e a "Dissolução do Ego": Timothy Leary, ao estudar o LSD e outros psicodélicos, descreve a dissolução do ego como um passo essencial para a expansão da consciência. Ele cria um modelo baseado no Tibetan Book of the Dead, sugerindo que os psicodélicos podem facilitar uma "morte do ego", permitindo o acesso a estados superiores de percepção e integração espiritual.

No fundo, todas essas abordagens reconhecem que nossa percepção habitual é uma construção limitada e que, ao modificar essa estrutura (seja por práticas espirituais ou substâncias psicodélicas), podemos vislumbrar níveis mais profundos da realidade.

Usuário: Se o ego é uma barreira, qual seria o caminho para transcender essa limitação sem o uso de substâncias?

ChatGPT: Huxley acreditava que havia caminhos naturais para alcançar estados de percepção ampliada sem o uso de substâncias. Ele menciona práticas como:

·         Meditação e Contemplação: Técnicas como a meditação zen ou vipassana podem dissolver a centralidade do ego e abrir espaço para uma percepção mais pura da realidade.

·         Jejum e Isolamento Sensorial: Muitos místicos utilizam o jejum ou o retiro sensorial para alterar a percepção e acessar estados ampliados de consciência.

·         Experiências Estéticas e Artísticas: Huxley destaca que a arte e a música podem ser portais para esse estado expandido, pois desativam o pensamento utilitário e ativam a contemplação pura.

·         Amor e Entrega Espiritual: Ele também sugere que o amor (no sentido místico, como ágape) e a entrega total ao presente podem dissolver a barreira do ego e permitir uma experiência do real sem mediação.

Curiosamente, Jung e Leary concordariam que a chave para transcender o ego não está apenas em quebrá-lo, mas em integrá-lo com algo maior — seja o Self (Jung) ou a "mente expandida" (Leary).

Usuário: Então, essa busca pela percepção ampliada se relaciona com a individuação em Jung?

ChatGPT: Exatamente. Em Jung, a individuação é o processo de integração do inconsciente e do consciente, permitindo que o indivíduo transcenda a identidade limitada do ego e se conecte com o Self, a totalidade psíquica.

A experiência psicodélica, tal como descrita por Huxley, pode ser vista como uma janela temporária para essa integração, onde o ego relaxa seu controle e permite que a totalidade do ser se manifeste. No entanto, Jung alertaria que uma experiência transitória não é suficiente — é necessário um processo contínuo de assimilação.

Ou seja, o que Huxley acessa momentaneamente sob a mescalina, Jung propõe como um caminho de vida, onde símbolos, sonhos e o diálogo com o inconsciente (por meio da imaginação ativa, por exemplo) são formas de alcançar essa percepção ampliada de maneira estável e integrada.

Usuário: Se Huxley estivesse vivo hoje, como ele veria o renascimento da pesquisa psicodélica?

ChatGPT: Huxley provavelmente ficaria entusiasmado com o renascimento da pesquisa psicodélica, especialmente no campo da psicoterapia e da exploração da consciência. Ele sempre viu o potencial dessas substâncias para expandir a mente e promover uma compreensão mais profunda da realidade.

Provavelmente, ele destacaria a importância de uma abordagem cuidadosa e ritualística no uso dos psicodélicos — algo que tanto os estudos modernos quanto as tradições indígenas reconhecem. Além disso, ele reforçaria que o objetivo final não é a substância em si, mas sim o que ela revela sobre a natureza da mente e do real.

Ele também poderia alertar para o risco da banalização: o perigo de reduzir a experiência psicodélica a um entretenimento superficial, sem o compromisso filosófico ou espiritual que ele acreditava ser essencial.

Isso reúne a essência do nosso diálogo. Agora, você pode copiar e colar em um editor de texto e salvar como PDF. Se precisar de algum ajuste, me avise!

 

O abismo do desconhecido


E saber disso por dentro de si... lá no infinito da compreensão entre labaredas e sonhos, bem ali junto dos escombros do que se foi, restos apagados nas distâncias, e depois abandonados; as lembranças vagas de um ser, este que contempla as margens do rio onde mergulhou quantas e tantas vezes, e agora aguarda a outra margem que desde sempre observa. Afoitos, prudentes, esquecidos no meio de cascalhos e flores, perduram os firmamentos, que passam inevitáveis pelo espelho das águas. Destarte, grudados a objetos, ideias, sentimentos, dormem a sono solto nas dobras do Destino.

Nisso, algo mais acontece do lado de fora que nem de longe haver-se-á de saber, talvez deixado pelos deuses do abandono. Uma caravana lhes persegue, à busca das ilusões. Há de haver meios que sejam, à custa de um Tempo que escreve, implacável, seus capítulos na alma das criaturas humanas.

Bem junto da gente, uma voz ensurdece a passos breves, na crosta dos hemisférios cerebrais; dores e lamentos dos que se foram, e visagens no limbo das consciências indagam o que fizeram de estar aqui, no entanto estáticos, assustados. Imóveis, quais meras estátuas, nesse deserto do Mistério, são indagações em forma de figuras; apenas observam o deslizar dos pensamentos, nada mais.

Noutro momento, nem sei quando, na maturidade das estações, ouvir-se-á gritos a perseguir os vultos que fogem na escuridão do passado. Descer-se-á ao barco do desejo e alimentarão de cores as outras histórias. Sobreviverão, quem sabe?, aos segredos desse caminho de novas paisagens. Daí, adiante, ser-se-ão tão só fagulhas de quando vieram. Trechos longos, frases a mostrar roteiros mil do que houvesse de ter sido, no entanto nisso escutam o rangido estridente dos portões do Paraíso.

sábado, 22 de março de 2025

Há um ser de perfeição


Ele, que em tudo habita. Numa saudade sem igual, percorre o que seja existir agora. Tantos nomes, dentre eles vida, humildade, sabedoria... Daqueles momentos raros onde se viveu a inocência, até nos céus da consciência, ali está, de olhos vendados, cada um, ainda a nascer. Noutras ocasiões, fala nos sonhos, na alegria, na música, no vento que varre o calor, na solidão; afinal, este ser assim persiste. Sem ele nada existiria, nem a inexistência. As palavras contam. O sorriso. A claridade dos dias. As cores. Os pensamentos sagrados. As estrelas. A noite. O Sol. A Lua. O silêncio. Liberto das convenções, vagueia solto nas eras sem fim. Alimenta os famintos. Observa as atitudes humanas diante do Infinito e espera o fluir dos acontecimentos. Qual quem equilibra o Tempo em suas viagens constantes, apenas aguarda o instante exato de exercitar as profecias e tocar em frente o crivo absoluto da Razão.

O passado nos traz até aqui. Demonstra o sentido único de todo o itinerário dos indivíduos. Reúne detidamente o quanto realizaram as vontades, nas presenças em movimento. Jamais fugir-se-á de si próprio. Um a um e sua equação inevitável. Nisso, o princípio universal de que sejam dotados, o sentido único da exatidão das escolhas, porquanto ninguém foge ao seu destino; do fruto, as suas ações.

As gentes buscam dizer de uma voz que fala em sentimentos, linguagem de si harmoniosa, porém articulada de forma suave lá dentro dos corredores das tantas horas distante, e que chega intacta de lugares sempre ali atuais, de um hoje eternamente. Nesses recantos sagrados do coração sobrevivem, pois, as mesmas histórias de onde viemos certa feita. De mundos ideais, contritos, outra vez construiremos da existência o que desde sempre então haveria de ter sido pela ciência original de que fomos feitos.

sexta-feira, 21 de março de 2025

Dia chuvoso

Nada melhor a que venham ser as multidões de lembranças espalhadas nalgum canto do juízo. Algo assim parecido com aqueles instantes frios daqui do pé da serra, de se ouvir raros pássaros e correr as águas nos riachos próximos. Regressam de filmes vagos, músicas suaves, pessoas e saudades, num fervilhar de motivos sem conta a encher essa pauta de memórias largadas, frívolas, quando, nem de longe, pensou-se reunir tantas imagens e sentimentos, mesmo iguais a outros tantos também dispostos pelas prateiras das horas. Nisso, no afã do passado querer dominar os sentidos e perdurar a custo, impressionar e existir. Sobrepujar os objetos e tatear as fagulhas do Tempo. Sustentar itinerários andados. Colecionar recordações. Sentir que houve certa feita vontades ocultas que varreram constantes terreiros abandonados de antigamente nas cicatrizes ali deixadas.

Dentre qual seja isto de transportar conosco o visto e o vivido é de saber em que mundo viverá o já visto e vivido nas malhas da consciência, eis um nunca sumir, e dedilhar fardos imensos de compreensões, situações, gravados nalgum retiro de querer saber onde, longe, bem aqui perto da gente, no entanto. Nisto, enquanto a peneira dos sóis preservar tais valores e significados, seremos esses nós a nos fazer relíquias noutras dimensões distantes. Aos pedaços, traremos dos esconderijos da história eus abismados e desfeitos pelas dobras dos dias, restos de ausências e sentimentos em tudo, qual o quê, tangemos no barco que ora somos, pois.

Dessas mesmas vivências, decodificamos alguém que nos denominaram e seguimos a carregar traços adiante, milhares, ou quanto mais, de visões circunspectas dos muitos que foram e, logo depois, sumiram, também, perante testemunhas que existiram nas longas horas intermináveis. Cravar as próprias unhas nesses tais setores de memória faz da gente outros até então desconhecidos, e que de novo persistirão lá qualquer dia no senso dalgum vivente que haja aqui pelas trilhas do Infinito.

quinta-feira, 20 de março de 2025

Sussurros abstratos


De algum lugar o que se escreve ali estaria escrito desde sempre, ao tempo em que nasce do juízo daqueles que resolvem contar. Assim tem sido desde que as palavras vieram até nós, no afã de trazer à tona o que lá estaria vivo, ainda adormecido sob as nuvens daquele universo distante. Pessoas que sejam, de uma hora a outra decidem contar desse augúrio que tem estreita relação com os sonhos. Noutro campo, num espaço da consciência, persiste essa vontade consistente do dizer das criaturas humanas. Nisso, elas narram histórias ausentes, observam seres enigmáticos que ali vivem, alimentam intenção agora desconhecida, no entanto.

Alguns autores resolveram, com isso, denominar de Inconsciente esse território de uma outra realidade, contudo cheio de semelhanças face ao que vivemos, em comparação. Lá existem dimensões, cores, movimentos, enredos quais próximos das ilusões daqui, todavia reais, dirigidas ao saber da autoria dos enigmas que ora cruzamos neste cotidiano. Olhos postos nessa dimensão transcendental, vez em quando surgem visionários a descrever aquele mundo misterioso, trazer lendas, contos, mensagens, profecias, frutos de suas visões imaginárias que chegam a contagiar criaturas e grupos, numa forma incontida de querer também chegar, qualquer momento, a esse país de sonhos lúcidos, afirmando, abismados, serem aguardados a certo dia, certa feita.

Diante, pois, desta condição estupefata, advêm comunidades inteiras que fornecem técnicas e valores possíveis de tamanhas aventuras, porém razão da sobrevivência de raças e credos espalhados pelo mundo. Há que saber, outrossim, algo semelhante justificar tanta certeza ao sabor das próprias percepções. E nem de longe haver-se-á de lhes conter os ânimos, já dispostos que estão a mergulhar nesse transe avassalador e desvendar de tudo e sobremodo o motivo de todas as contradições do estágio atual onde perduram.

quarta-feira, 19 de março de 2025

As entranhas das palavras


Som fosco de relâmpagos revira os céus da consciência e pede outro instante além do que seja este. Daí, na intenção original de que falar, espécie de ausência em lua de mel, quando, por mais se insista conter, o desejo ali permanece, o coração anda cauteloso, sem querer abrir as asas da liberdade, pois experimenta emoções contraditórias de velhos desencontros. A presença dela, no entanto, enche de oxigênio o peito e as fibras dos pulmões atrofiados voltam a folear com gosto. Compactados pelos fios de pedra das visões, elas apenas seguem os sonhos nas doses permitidas aos beijos só de mãos e leves afagos nos braços descobertos da etiqueta, em um nada que ultrapassasse a censura das impressões alheias.

Existem, sim, os refolhos do mistério, que abrem suas portas caprichosamente. Espécie de ser que desperta envolvido já no líquido dos partos recentes, mexe o corpo no exercício da existência. Distende a silhueta enigmática num gesto harmonioso de incertos passos e ombros se erguem à certeza.

A democracia representativa do presente, sim, essa sempre vem preenchida dos absurdos da vez, quando gastos das campanhas eleitorais exigem somas fabulosas de custos, sob a perspectiva de dominar os postos de comando e reverter as possibilidades sociais dos outros. Ainda que signifique o extermínio da ética filosófica, nomes expressivos dos grupos arriscam suas belas histórias originais no poder sem limite da vaidade humana.

Então, as luzes acesas do palco bem longe revelam a verdade, no largo sorriso da inevitável Esperança alimentada no futuro.


A nota de cinquenta (anedota popular)


Nas coisas da Natureza existem ocorrências cujos aspectos se repetem sob ritmo constante, matemático, demonstrando lógica pouco avaliada, no entanto marcante sinal da exatidão interna de ordem nos sistemas. Como exemplo dessas verificações, a cada mãe viúva de comum corresponde nítida abnegação pelos filhos do casal, que, na busca de neutralizar a perda do marido, fatalidade atroz, expressa amor incomum, e sustenta a casa, orienta a prole, força compensatória inigualável.

Ditas quais considerações, vale narrar o episódio seguinte.

Uma mãe, dessas viúvas extremadas, que dão a vida pelos filhos, vivia com filho único, Adroaldo, seu nome, criança peralta que testemunhara, logo no começo da infância, o pai seguir desta para a outra vida, sem compreender direito aquela movimentação toda na casinhola da rua do Cruzeiro, durante doença repentina e desfecho melancólico, a cobrir de preocupação a face dos vizinhos.

Depois das horas atribuladas, na saudade cresceu vendo a mãe emagrecer de lavar roupa, catar lenha e engordar galinha para vender na feira e de casa em casa, nas ruas da cidade indiferente. Auxiliar, auxiliava, pouco, contudo. Bom mesmo achava jogar pião, triângulo, soltar papagaio, bater bola nos fins de tarde, pegar passarinho, roubar manga, serigüela, cajarana, sapoti, etc., vadiar de noite nas quebradas com os outros moleques, cavar botija com seu Aprígio, o padrinho, nas noites de lua, pros lados do Corretim. Escola, ah, escola!... De canelas sujas no barro vermelho, onde reinava, passava água nos cabelos e descia rumo às aulas, sentido fixo nos pratos da merenda, almoço do meio da tarde.

Assim, veio a se tornar rapaz marrudo, maneiroso, dorminhoco contumaz, desempregado na geração globalizada dos tempos dagora. Enturmado de outros semelhantes, boné de aba longa para maneirar o sol do sertão, desde cedo, dormia mais do que comia, sonhava mais do que trabalhava. E a velha mãe, cedo acabava a beleza que restara nos batentes ingratos da sobrevivência, antigo vigor da morena dengosa que fora no passado, nunca perdendo, porém, de todo a esperança de presenciar o herdeiro transformado em gente honesta, partido bom que lhe concedesse belos netos, senhores doutores da sociedade dos ricos, famosos, poderosos.

Nesse quadro rotineiro, lá um dia, de madrugada, as insistências da mãe ao filho:

- Acorda, Adroaldo, acorda, homê! São cinco horas e tu continua dormindo a sono solto. Vai trabalhar, que teu pai sempre fez desse jeito, e nós vivia bem nesse lugar.

Conselhos que ouvia inúmeras madrugadas, sem mostrar serviço. Entrava num ouvido e, ligeiro, saia no outro. Cabisbaixo, acordava de cara inchada, passando das nove, preguiçoso no corpo e na alma, pronto a fechar outros cigarrinhos de fumo e folha.

Até que, outro dia desses, a mãe forneceu-lhe argumento inarredável:

- Veja, meu filho, Zé de Sinhá Dina ontem saiu cedo pro Mercado e, aqui perto, no meio do caminho, achou uma nota de cinquenta, novinha, novinha... Fosse tu que acordasse cedo, e nós passava uns dias sem os aperreios abusados da luta cá de casa.

- Sem essa, minha mãe. Diga então se não estou certo: Mais cedo acordou quem perdeu de bobeira essa nota nova que achou na viagem – e se ajeitou querendo dormir mais um pouco.

terça-feira, 18 de março de 2025

Entre a teoria e a prática


Por mais que se pretenda encontrar só na teoria o equilíbrio tão almejado desde sempre pelos seres humanos, no entanto há que buscar dentro de si mesmo esta alternativa almejada. Útil e necessária, a Realidade exige atitude individual quanto estabelecer bases ao encontro consigo próprio, favorecendo a estabilidade emocional. Esse emprenho significa desvendar a essência e o motivo de existir. São inúmeros as narrativas e os conceitos desse despertar de consciência, no entanto a nível subjetivo de quem o experimenta. Tal conceito adotado na própria Ciência, o mapa não é o território. Nisso, persistem avanços quanto ao conhecimento da personalidade, mas antes existirá a inevitável participação do sujeito nesse processo existencial. Em estado puro, equivale dizer que impera a urgência do exercício de toda prática por ventura trazida à baila, impondo com isso a efetiva interiorização dos instrumentos a que possa contar.

Nesse espaço por demais acrescentado todo tempo, utilizando técnicas e elementos químicos, o objetivo equivalerá ao bem-estar dos pacientes, considerando limitações e carências, pois a consciência representa o sentido a obter através de toda cultura humana. Daí vêm as filosofias, credos e resultados, num único destino final, a cura, o equilíbrio

sonhado de tantos entre a vontade e o poder.

No andamento, pois, dos tais avanços técnicos, químicos, científicos, de modo geral revela-se intensamente o modo particular de todo o desenvolvimento até agora obtido nessa busca incessante da plenitude. Destarte, o passo seguinte decididamente pertence ao ser em si, nos seus pendores e práticas, da maior evidência. Portanto, nenhum resultado virá apenas do mundo externo sem que haja nítida participação dos protagonistas nesse retorno ao poder que já traz no seu íntimo e carece de evidenciar a obter a sonhada felicidade.


segunda-feira, 17 de março de 2025

Um novo céu na consciência


Somos isto, tantos, todos eles que imaginamos ser. Vivemos nos lugares onde passamos certa feita. E vagamos soltos na trilha dos pensamentos. Mundo imenso, o universo da presença aonde fomos. Às vezes, lânguidos. Outras, flácidos, soturnos, sarcásticos, toscos, mordazes... Porém protagonistas das mesmas cenas agora pálidas desse antigamente que o fazemos constante e ora encenamos a nós próprios muitas vezes. Nós, laços desconhecidos com o desconhecido. Mãos a tatear os dias quais visagens insistentes na busca do sentimento. A que refutar, nada há contudo. Seres perenes na pauta dos firmamentos, autores de inúmeros eus e apenas sis em movimento na tela deste azul multiforme.

Fôssemos iniciar isso tudo, nos fartaríamos das ausências, senhores da filosofia e escravos das histórias. Bem de perguntar e nada compreender de todas as respostas recebidas. As palavras vivem, sim, dessas chamas que alimentam o caldeirão da imortalidade. Alguns, contudo, aceitam viver a dúvida e saborear as ilusões, quais fagulhas de novelas esplendorosas. Deixam fluir as cores, enquanto adormecem nos sonhos, feitos personagens da única alma que lhes conduz.

...

Escuto de longe o som das águas descendo da serra, depois das chuvas dessa noite, e me abandono à imaginação, sabendo, todavia, o quanto aconteceu até o que agora possa existir. E que, horas a fio, pássaros cantassem, soprasse o vento a sacudir as árvores, e pensamos a circular nas compreensões lá também distantes... Esse tanger de sons forma, pois, viveres e nuvens nesta imensidão das horas.

Aqueles instantes largados no tempo andam junto das pessoas, a dizer das suas vivências, dando sinais enigmáticos da Eternidade. Nisso, a memória sustenta as emoções e um véu luminoso envolve o que restou guardado no seio das existências.