(Emerson Monteiro, em parceria com o DeepSeek AI)
Há certas manhãs em que o céu desce até a calçada, e, nisso, o ar se enche de presságios. Foi numa dessas vezes que acordei com um som de trombetas a percorrer o silêncio daquele instante. Não era das fanfarras estridentes dos desfiles cívicos, nem dos clarins desafinados de algum circo de outrora. Era algo mais grave, mais fundo, como se as próprias nuvens ali estivessem anunciando um tempo novo que vinha se aproximar.
Saí à rua, e eis que a cidade seguia sua rotina habitual,
indiferente. Os vendedores apregoavam suas mercadorias; os moto táxis zunziam
entre os buracos e automóveis; as crianças corriam para a escola. Ninguém mais
ouvira o som? Ou seria coisa da minha imaginação, dessas que costumam visitar
os sonhadores logo ao romper do dia?
Parei na esquina do Bar do Zé, onde anciãos já se
reuniam para um cafezinho e as histórias de antigamente que viessem à tona. Perguntei
se tinham escutado algo diferente no céu. Olharam-me com aquela piedade
reservada aos que começam a perder o juízo.
— Trombetas, seu Emerson? Aqui só se escuta o ronco
dos caminhões e o berro dos políticos na campanha eleitoral.
...
Voltei para casa com a sensação de que talvez o
anúncio fosse a mim dirigido dalgum lugar do Universo, quem sabe?!. E, se era,
o que significava? Seria um chamado, um aviso, ou o prenúncio de alguma
transformação?
Desde então, fico mais atento. Pode ser que um dia,
quando menos esperarmos, o som retorne com outra intensidade. E, dessa vez,
todos ouçam. Até lá, sigo na minha vigília, entre o mundo que é e o que poderia
ser, ouvindo na brisa o eco distante de uma trombeta que ainda há de soar no
tempo, certamente.
(Ilustração: Sete trombetas, Wikipédia).
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