Mesmo que dentro da cápsula, ainda assim vemo-nos face a face com a realidade através dos pensamentos, que viram palavras e arrastam as conjecturas. Nem de longe imaginar houvesse outro meio senão a própria consciência em formação sob os limites estreitos de si mesmo. Meros gravetos a flutuar nesse mar de impressões que testificam só a própria pessoa e ninguém mais, mesmo que nos toquemos a todo instante noutros objetos também na flutuação das ondas ansiosas.
De um a um, somos tão só (ou esse caudal de) pequenos toques
face a face com aparências que as formamos e trazemos à tona, todos à procura
de um código que venha superar a distância infinita nossa com a certeza de que
descobriremos a Verdade qual seja lá um dia. São infinitas folhagens numa
aparente certeza. Circunstâncias em movimento. Pretensões de variados tons que
aspiram desesperadamente desvendar o mistério dos sóis em formação do que ora
somos. Fagulhas do grande Todo. Uma imensidade dos pequenos universos que
sacodem o Tempo em tudo.
Disso, desse afã de moléculas que compõem o painel das gerações,
nascem as perguntas e respostas, quais poder de todos em uma ação inevitável
pelos céus de todo dia. Isto bem será o que temos a oferecer no altar dos
sacrifícios das horas. Juntamos e desfazemos a todo momento, artífices da
sorte. Daí as construções, bibliotecas, descrições e práticas que conduzem a
sinfonia da Eternidade. Querer sim ser maiores, significar apenas ser e nada
além disto. Batemo-nos, pois, nos rochedos das noites e adormecemos ao som dos
fascínios e nos alimentamos de desejos e dúvidas. Depois, simplesmente o caos
da imensidão que desaparece sorrateiramente na escuridão entre as falas insistentes.
A consistência de que falam os livros permanece latente às
próximas impressões largadas ao vento. Pequenos, porém existentes. Maiores,
porém anônimos. Luzes que acedem e apagam; apagam e acedem; num único acorde que
nos dar andamento rumo ao Cosmos em formação. Isto, e o silêncio sideral.
(Ilustração: Vincent Van Gogh).
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