quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Além da dualidade


Bem onde existiu o amor, única e exclusivamente, poder soberano que a tudo circunscreve na leveza das espécies, era ali o início do século absoluto, na dissolução das massas ao calor das circunstâncias. Das dores do parto sobre as rochas ígneas do furor, nascera um Eu diferente do quanto havia; fora a renovação de aves e sonhos, pura transformação em esperança do que existira perante o desespero final. Aqueles que assim nutriam de vontade o ânimo das feras adormecidas, eles, esses, verão a Deus.

Passadas que foram as primeiras caravanas, novas expedições desceram do céu e abriram caminhos de receber os eleitos na Terra da Promissão. Unidos em si, acalmaram os sentidos físicos no abraço fraterno, definitivo, longe das horas só das angústias, detidas que foram nas garras das esfinges e dos dias. Destarte, longos semblantes disso vieram às praias do coração e despertaram o senso do inigualável de dentro das existências.

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Pouco importa, pois, outros mares enquanto o dilúvio de fogo calcina as palhas atiradas aos bichos famintos de paixão; olhos fixos na paisagem lá distante, a inutilidade sumiu nos becos escuros. Isto, apenas isto, a união dos objetos no nada universal do que há vagando solto nessas histórias de destruição em andamento. Entretanto, a farsa do espelho embriaga de desejos os velhos Apolos nas noites de perdição e desamor.

Outro mundo, outros mundos, aonde seguir os parceiros da sorte, colhidos que foram nos botes das naves na festa sideral; portas delas se abrirão de par em par.

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Aceitar, porém, de bom grado, o rosto da razão na matriz do coração, eis a fusão inextinguível de mil sóis, síntese dos seres de humana inteligência; desvendarão o mistério dos dois eus, resposta dos enigmas de que fizemos parte durante todo tempo da existência, a pisar o chão das almas e resolver as ilusões na mais extrema felicidade.

(Ilustração: Max Ernst).

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