Tal qual película sem planos de terminar quando seja, chegam as lembranças que invadem o tempo que somos nós, marcas profundas de outros sentimentos e outras ocasiões. Livres de qualquer previsão, elas regressam aos mesmos momentos de antes, a reviver pessoas, lugares, canções, relacionamentos, numa persistência de causar susto. Algo assim parecido com situações assemelhadas que voltam a ocorrer, querem apenas um pretexto de continuar dentro da gente, feitas ausências vivas, insistentes. Os dias, as horas, períodos anuais, tudo produz essas sensações mordazes de querer outra vez o momento que fora presente, tais proprietários de séculos antigos que deixaram suas terras e foram a outras histórias longe dali, mas que, agora, talvez em face das frustrações que lá encontraram, e decidem reabitar, a todo custo, os meus infernos, céus, do passado perdido nas distâncias.
Uma longa epopeia desse eu que vaga solto nas entranhas das
criaturas humanas, restos de sóis dalgum instante que aparentemente houvesse
esquecido de si e de novo resolvesse lembrar e preencher o vazio largado
nas calçadas da memória. São histórias ricas das mesmas saudades que lhes fizeram
a cabeça e depois, num lance de mero capricho, mergulhassem entre os rochedos à
procura da sorte, na certeza de, adiante, voltar a construir aonde deixaram só
suas ruínas no tempo.
Bem desse jeito são as trilhas impostas pela existência, no
senso de quem vive aqui. Dores atrozes das amargas biografias, ou as lindas
vagas de belas sonatas que sustentaram as farpas do Destino. Nós conosco
próprios, senhores dos céus e sujeitos às alturas. Nisto, a fome de crescer,
ouvir as vozes do vento, sonhar contos maravilhosos doutras civilizações quiçá desaparecidas,
julgadas, fugidas, que viraram grotões de cicatrizas riscadas nas paredes da solidão.
Nada mais que isso, o sentido do que havia e jamais obteve a liberdade, e fomos
prescritos na escritura desse mistério que transportamos até chegar ao juízo
das interpretações, motivo de todas as lendas.
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