Bom, e diante disso tudo que a existência apresente forma de sonhos, no desejo imenso da vitória sobre as ilusões que ganham corpo e reclamam seriedade, no pulsar dos dias. Jamais pretender apenas manchar inutilmente o vestido proceloso em que se transformaram os dramas cotidianos. Reclamar do sentimento maior confiança junto das sombras desta noite ainda que escura; poder oferecer, no altar sentimentos, algo que demonstre o quanto de luta a fim de vencer o desânimo e o desespero vale a pena. Quer mais do que justificar o injustificável e desparecer lá no íntimo do tempo, sem deixar nem vestígios de que existiram nuvens, ou foram só e apenas miragens de segredo inconfessável. Isso que pergunta aonde descerão os passageiros que enchem o comboio apressado, todos perto de vizinhos mudos... Quanto durará, pois, o enigma dessa estrada longa, infinitesimal no entanto, linheira, talvez cheia de curvas fechadas, em cima do mesmo trilho brilhante.
Abra a janela do vagão e respire com intensidade o ar gostoso da verdejante campina. Lá à frente um pastor tange ovelhas a cruzar o destino metálico das paralelas ao encontro no Infinito sobre as quais desliza preguiçosa a composição. Transcorrem as casas de crianças a brincar no terreiro; mães a estender lençóis coloridos nos varais em distantes; bichos vários espalhados no momento, que observam o sequenciado das luzes do nascente. Meras paisagens de finalidade desconhecida ainda, contudo portas abertas de outras dimensões. E olhar num gesto verdadeiro a imensidão de acalmar a vida a revirar pelas entranhas... Vontade soberana de transformação que lhe sacode o corpo inteiro, de tocar em frente o sistema alguns meses ou milênios afora? – voz persiste no trabalho com as palavras acesas nesse chão das almas e outras compreensões.
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