quarta-feira, 4 de março de 2015

Esses pobres amantes

Desde as pompas preparatórias, danças lotavam de nobres os salões iluminados e deslizantes casais. Os dois, a lady e o príncipe, semelhavam pássaros alegres, reflexos dos olhares longos de damas e cavalheiros, imagem milenar das monarquias, saracoteando sedas no efusivo ambiente. 

Puro sonho, festa de casamento que durou três dias. Ela chegara à real família pelo amor romântico tecido nas teias da candura. Nobre, linda, porém fruto de linhagem paralela onde a fidalguia concedera-lhe o sétimo céu de ser princesa no reino da Inglaterra.


Essas emocionadas fases, conquanto depois contraditórias, cobravam da família detalhes essenciais à preservação das condições iniciais. Diana Spencer existiu para o marido, seus dotes e filhos herdeiros. Repetidas vezes, quis se arremeter de encontro ao destino que lhe tirara da história plebeia, largado-a no paço. Entretanto reservara-se discreta no silêncio das alamedas, submissa ao cerimonial, das viagens de ofício e compromissos outros.

Fluíram longos dez, doze, quinze anos de regularidade protocolar.

Numa bela manhã de primavera, na discreta cavalariça, próxima de James Hewitt, oficial instrutor dos príncipes, viu o que lhe fez recordar os livros infantis, as histórias de encanto, no reservado coração adormecido.

Dispararam em si tontas emoções retidas pelo contrato nupcial das máscaras oficiais. O castelo hostil veio no seu encalço. Saber disso jamais poderia, visto fugir da lei e, estoica, abandonar as calandras escuras do preço que pactuara. 

Nalgum impulso, as carnes rasgaram a tradição do sossego. Apaixonada, a princesa amou quanto necessário, quiçá pela primeira vez. Sentimentos ganharam corpos. Dois amantes pecaram no palácio imperial. Ela jogou ao solo muralhas carcomidas de todas as convenções. Charles também derivou noutras aventuras e o conto de fadas virou crônica galante. Os filhos, sempre eles, pagam o desamor dos pais. 

Separada a união do século XX, feridas abertas aos tabloides sensacionalistas, repercutiram escândalo e dramas particulares, na roupa suja lavada nas praças. Viajou pelos países, a servir de emissária que tutela os exilados desse mundo torto. África. Ásia. América.  

Uma noite a todos de novo surpreende. Em 31 de agosto de 1997, em Paris, morre Diana junto de outro namorado, após baterem com o carro nas estruturas urbanas da capital francesa. 

Cinco anos do desaparecimento, jornal inglês traz a notícia de que o ex-amante da princesa fixou preço para suas cartas de amor. O diário londrino News of the World, na edição de 15 de dezembro de 2002, disse que o oficial James Hewitt buscou vender pelo valor de 10 milhões de libras (US$ 15,6 milhões) a correspondência amorosa. Esta é a primeira vez que um membro da família real escreve a um soldado que está no front, disse Hewitt, que recebeu as cartas de Diana durante a Guerra do Golfo, ao servir no Kuwait. Isso num besto desvairado de quem acolheu o amor imperial e perdeu a licença possível que houvesse para os amantes verdadeiros nos tribunais da Eternidade.

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