Crato não fugiu à regra e testemunhos podem ser recolhidos, pois cada depoimento somado concederá uma visão da memória, comparável às fotografias diferentes de um mesmo sítio.
Nesse sentido, aqui trazemos uma contribuição, enfocando os principais tipos, por nós conhecidos, que se destacaram em feiras, bares, cafés, mercados e praças, no cotidiano da cidade, dos anos 50 até quase agora. Admitidas lacunas, no entanto sendo bom que outros contribuam, preenchendo os claros assinalados.
Muitos talvez se recordem de dois pedintes bem característicos: Pedro Cabeção e Moipen. Pedro fazia ponto na Rua Miguel Limaverde, onde antes ficava a saída do Cine Cassino; hidrocéfalo sempre feliz, estalava a língua no encontro do céu da boca, ocasionando ruído para chamar a atenção dos passantes, com quem trocava chistes e de quem merecia as migalhas da sobrevivência. Simpático por profissão, conseguiu se fazer querido de muitos, sobretudo das crianças.
Moipen (Júlio Grego era o outro nome dele), por sua vez, seguia, de casa em casa, chapéu de palha de aba larga sobre a testa, a lhe encobrir os olhos, girando na ponta do indicador uma bandeja de flandre desbotada, qual fosse um disco, adaptando o som da palavra esmola ao seu falar diferente (moi... moi... moi...) (moipen... moipen... moipen...), para significar uma esmola para Nossa Senhora da Penha.
Outra figura peculiar das ruas cratenses - Tendô, que não mais soubemos dele; representava outra época dessa história natural da cidade, nos fins da década de 40, começo dos anos 50.
Troncudo, baixo na estatura, cinto largo de muitos adereços, fivelas variadas, e cravejado de tudo quanto era ilhós, e um chapéu de couro e barbicacho que não destoavam do exagero geral; também muito querido da população, prestativo e eficiente, vivia de recordar as proezas de seu antigo patrão, Dr. José Gesteira, a quem servira em sua casa de saúde.
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