De observar as ruas
da cidade, notamos forte tendência nos atuais moradores para se transferir ao
campo, escapar do barulho, dos engarrafamentos, insegurança, e respirar libertos
da fumaça. Nos fins de semana, então, a coisa ocorre sem deixar dúvida. Os
grandes centros viraram só compromisso de segunda a sexta-feira. Depois, fuja
quem puder.
Tal avaliação
sugere a falência de um sonho que alimentou muitos séculos. O instinto de
procurar vilas e repartir preocupações lotou o espaço das cabeças todo tempo, que
povos não pensaram em mais nada como outro modo de racionalizar o povoamento.
A proposta seria
somar forças. Entretanto a sofisticação da vida em grupo gerou dificuldades, no
princípio superáveis pelo trabalho partilhado, depois intransponíveis face ao
crescimento, rompendo previsões e limitando alternativas para ocupação de toda
a mão de obra concentrada.
Os núcleos de
prosperidade em que se haviam modificado as povoações resultaram nas baías
interiores, com classes sociais dilatando o fosso divisório do abismo social,
desvirtuando o impulso gregário dos indivíduos subtraídos da ordem natural que
ficara no campo. A tendência afluente se reverte agora num isolamento coletivo,
hoje bebido com náusea nos passeios neuróticos das madrugadas urbanas.
De tal maneira as
chagas têm sangrado que maioria incalculável de cidadãos passou a descrer das
soluções comuns, adotando iniciativas particulares, mesmo em detrimento dos que
nada podem fazer.
Seriedade não falta
para o estudo de sintomas. Congressos, mesas redondas, discursos, prepotência,
pirotecnia. Interesses próprios mascarados de usurpação de atribuições.
Fórmulas mágicas preenchem as prateleiras - critérios exclusivos e bilionários nos
programas de governo.
Em compensação,
risco ocorre no achatamento dessas intenções, vez ficar difícil dizer quem pode
ou quem quer só o poder; saborear o mel e descartar o fel. Do pecado na escolha
ruim fica um preço a ser pago, tamanho do tempo perdido, multiplicado pelas
vidas em jogo, milhares que habitam os guetos das cidades; seria, talvez, a
democratização da miséria, invasora dos lares e destruidora da vida social,
espécie de submissão aos valores piores, quando se descartou a chance de escolher
melhor, vezes perdidas para sempre.
No passado, as
guerras reviravam ordens estabelecidas e desfaziam os problemas críticos a
toque de caixa. Depois, técnicas potencializaram a riqueza, comprimindo
exércitos no atributo de forçar direitos. Resultado: polos urbanos
transformados em campos de concentração e desavenças. Os instrumentos de lazer
eletrônico restaram desmantelados nos cubículos escuros sem ar, nem paz, quais
sucatas de luxo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário