Os dois há coisa de várias
décadas, duas ou mais, namorados, andavam juntos nas horas vagas, cheiravam um o
outro, se alisavam os cabelos, os braços, gostavam de permanecer na harmonia
bem ali hora de nascer a Lua no céu, sentados na calçada pouco movimentada,
olhos mais lá dentro do coração do que presos no satélite entre as nuvens
eventuais, puro sentimento, digamos assim, o que norteava o gosto de ficar
perto nas noitadas do interior.
Isso demorou eras de
aproximação, só viam as famílias quando nas festas maiores. E aceitavam
companhia durante poucos instantes inevitáveis, depois buscavam os calados ermos,
naquela presença fatal das duas presenças persistentes.
Conversar, eles conversavam
as partes indispensáveis dos diálogos: Quer
água? Vou buscar. O café ficou pronto. Quer que feche a janela? Vou embora que
já passou da hora...
Numa dessas ocasiões
especiais da convivência, sentados no valho banco afastado, observavam crianças
correndo, carros passando alvoroçados, cães em disparada à caça de gatos
afoitos e rabugentos; daí, o silêncio parece que falou uma oitava acima do de
comumente. Nisso relâmpago intruso cortou o firmamento daquele universo dos
dois amantes.
Ela olhou lá dentro
dos olhos dele e resolveu revelar o segredo que desde sempre lhe mexia as
entranhas dos planejamentos, e falou sério:
- Sabino, quero confessar
alguma que sacoleja no peito quase todo dia, e dessa vez apresentou vontade que
posso controlar. Vou dizer, e logo, antes que me arrependa.
- Ó, diga, diga, Maria,
que já estou até querendo saber do mistério tão especial. Diga, pois, minha
querida.
- Sabino, pensei,
pensei. Que é que você acha, vamos casar?! – baixinho expressou tudo que
guardara nas gavetas da alma sem coragem de propor fazia tempo.
O namorado estarreceu,
espantou, levantou os olhos ao horizonte da praça e demorou avaliando as ideias
que surgiram na consequência daquilo. Ela, ao modo tímido, baixou a cabeça
junto do colo apreensivo, de imaginação acelerada ao ritmo dos corações mais aflitos.
Ouvi extasiada a resposta:
- Mas Maria, casar,
casar... O povo anda muito ocupado consigo próprio. E será que nesse mundão tem quem queira casar com nóis?!
- História que ouvi de
Alemberg Quindins.
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