Numa de suas vindas ao Ceará, no município de Lavras da
Mangabeira, Sítio São Domingos, de propriedade do coronel Raimundo Augusto
Lima, Lampião acampou com o seu bando na mata acima da represa do açude.
Avançava de quando em vez pelo Estado, sem, contudo, desenvolver ações de
saques e violência nas cidades e vilas, em respeito ao Padre Cícero, segundo
afirmava.
Para conseguir achar os caminhos
de saída do sítio, o Rei do Cangaço pegara o vaqueiro de nome Pitéu e passara a
utilizá-lo de guia. Quando souberam disso, as forças vieram no seu encalço.
No período noturno, esboçou-se a
perseguição ao bando, através de dois grupos armados. Um comandado por tenente
da Polícia e outro por Assis Viana, ligado ao proprietário das terras.
Na passagem de cancela que dava
acesso à manga do São Domingos, confundiram-se os grupos perseguidores,
pensando tratarem-se do perigoso inimigo e terminaram trocando tiros entre si,
ocasionando alguns feridos de ambos os lados.
À distância, enquanto ouvia os
disparos do combate acidental, o bandoleiro comentou:
- A canalha está se acabando com
eles mesmos – e de onde se achava, pelo barulho, estimou quantos rifles,
mosquetões e fuzis eram utilizados na refrega.
Daí, um dos seus comparsas sugeriu:
- Virgulino, vamos lá dar um
ensino naqueles macacos.
- Não, eu não quero briga. Quero,
sim, encontrar o jeito de sair desse canto.
Mais tarde, junto da cerca da
manga, ao escutar a aproximação da volante, ordenou o bando que se atarraxasse
no solo, em meio ao capim seco da mata, todos permanecendo no mais completo
silêncio.
Junto deles, Pitéu também manteve
o sangue-frio.
Nessa hora, igual com o bando
inerte na sombra dos arbustos, mediante a claridade da lua, viram quando Assis
Viana, agarrado em duas estacas, subiu nas varas da cerca, quase em cima deles,
e mostrou-se todo, de peito aberto. Os bandidos observavam toda a cena e
nenhuma reação esboçaram.
Antes de clarear o dia, tomaram
outro rumo e levaram consigo o vaqueiro durante algum tempo mais. Lá adiante,
em ocasião favorável, Pitéu viu-se posto em liberdade, recebendo de pagamento
do famigerado bandido um rifle novinho em folha, munição, um animal de montaria
e dinheiro, a título de pagamento pelos serviços prestados.
(História ouvida de Luiz Lacerda
Leite).
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