Desde as pompas preparatórias, danças lotavam de nobres os salões
iluminados e deslizantes casais. Os dois, a lady e o príncipe,
semelhavam pássaros alegres, reflexos dos olhares longos de damas e
cavalheiros, imagem milenar das monarquias, saracoteando sedas no efusivo
ambiente.
Puro sonho, festa de
casamento que durou três dias. Ela chegara à real família pelo amor romântico
tecido nas teias da candura. Nobre, linda, porém fruto de linhagem paralela
onde a fidalguia concedera-lhe o sétimo céu de ser princesa no reino da
Inglaterra.
Essas emocionadas fases, conquanto depois contraditórias, cobravam da
família detalhes essenciais à preservação das condições iniciais. Diana Spencer
existiu para o marido, seus dotes e filhos herdeiros. Repetidas vezes, quis se arremeter
de encontro ao destino que lhe tirara da história plebéia, largado-a no paço.
Entretanto reservara-se discreta no silêncio das alamedas, submissa ao
cerimonial, das viagens de ofício e compromissos outros.
Fluíram
longos dez, doze, quinze anos de regularidade protocolar.
Numa bela manhã de primavera, na discreta cavalariça, próxima de James
Hewitt, oficial instrutor dos príncipes, viu o que lhe fez recordar os livros
infantis, as histórias de encanto, no reservado coração adormecido.
Dispararam em si tontas emoções retidas pelo contrato nupcial das
máscaras oficiais. O castelo hostil veio no seu encalço. Saber disso jamais
poderia, visto fugir da lei e, estoica abandonar as calandras escuras do preço
que pactuara.
Nalgum impulso, as carnes rasgaram a tradição do sossego. Apaixonada, a
princesa amou quanto necessário, quiçá pela primeira vez. Sentimentos ganharam
corpos. Dois amantes pecaram no palácio imperial. Ela jogou ao solo muralhas carcomidas
de todas as convenções. Charles também derivou noutras aventuras e o conto de
fadas virou crônica galante. Os filhos, sempre eles, pagam o desamor dos pais.
Separada a união do século XX, feridas abertas aos tabloides sensacionalistas, repercutiram escândalo e dramas particulares, na roupa suja
lavada nas praças. Viajou pelos países, a servir de emissária que tutela os exilados
desse mundo torto. África. Ásia. América.
Uma noite a todos de novo surpreende. Em 31 de agosto de 1997, em
Paris, morre Diana junto de outro namorado, após baterem com o carro nas
estruturas urbanas da capital francesa.
Cinco anos do desaparecimento, jornal inglês traz a notícia de que o ex-amante
da princesa fixou preço para suas cartas de amor. O diário londrino News of
the World, na edição de 15 de dezembro de 2002, disse que o oficial James
Hewitt buscou vender pelo valor de 10 milhões de libras (US$ 15,6 milhões) a
correspondência amorosa. Esta é a primeira vez que um membro da família real
escreve a um soldado que está no front, disse Hewitt, que recebeu as cartas
de Diana durante a Guerra do Golfo, ao servir no Kuwait. Isso num besto desvairado
de quem acolheu o amor imperial e perdeu a licença possível que houvesse para os
amantes verdadeiros nos tribunais da Eternidade.
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