Dentre as coisas que minha mãe
conta, do tempo quando aprendia com sua avó o jeito de viver, existem provérbios
os quais, à medida em recorda, pede para que os anote e transmita aos outros,
ou escreva, como faço nesta oportunidade.
São brocardos populares cheios da sabedoria decantada dos
tempos; alguns leves, engraçados; outros, no entanto, dotados de extremo rigor,
como quem alerta sobre a malandragem dos varões para com as mulheres, num aviso
de causar dó aos irresponsáveis no trato com o sentimento alheio: Não confie em homem nem quando ele está
dormindo. Os olhos estão fechados, mas as pestanas estão bulindo.
Nos cuidados financeiros necessários ao bem viver social,
há observações por demais pertinentes com o dia de amanhã, tornada previdência
útil a ordem de poupar a riqueza, sempre importante e válida: Cada qual faça por ter na bolsa quatro
vinténs; no céu só entra que Deus quer, na Terra só vale quem tem. Ditado
logo seguido de outro, também versado no mesmo tema financeiro: Economize para ter e quando tiver, economize
se quiser.
Filosofia prática e boa de exercitar. A memória acesa de
minha mãe, em sua carga de experiências, traz à boca palavras gravadas que
servem de lição aos mais atentos. E recorda dizeres do uso de seu pai, Antônio
Bezerra Monteiro, exímio tocador de banjo nos festejos de Crato e nos brejos do
pé da Serra. Dele pediu que anotasse um dos chistes que gostava de dizer: Sou da lei da raposa, quando o Sol se põe,
ainda faço muita coisa. Ao contrário de outros, da lei da cotia, a quem, quando
o Sol se põe, acabou-se o dia.
Vez por outra, ao deparar situações ocasionais, me vem no
pensamento esses aforismos tradicionais, soltos na cabeça e preenchendo vazios
de reflexão, a servir de alternativa com o mínimo de senso. Nessas ocasiões, a
voz de minha mãe parece ali perto dizer essas falas tiradas do baú das eras: Boa romaria faz quem na sua casa está em paz.
De grão em grão a galinha enche o papo.
Pelos santos se beijam os altares. Devagar se vai ao longe. Nem tudo o que reluz é ouro. Quem quer, vai; quem não quer manda. Deus ajuda quem cedo madruga.
Por vezes, as expressões matemáticas da vida surgem na
forma de histórias pitorescas e moralistas, do tipo da que transcrevo aqui, nas
palavras textuais que dela ouvi.
Um português veio ao Brasil e aqui montou uma vacaria,
passando a vender o leite que produzia misturado metade de água. Algum tempo
depois, retornava a Portugal, levando um macaquinho para mostrar ao povo de lá
que não conhecia o animal. Entre seus pertences, no navio em que viajava,
transportava um saco cheio das moedas, fruto do apurado com a venda do leite aguado.
No decorrer da viagem, sem que notasse, o macaquinho deu de mão do saco e
passou a jogar uma moeda no mar e devolver outra para o saco, até deixar só a metade
das moedas. Água deu, água levou,
assim pensou o homem, quando viu o que sobrou da traquinagem do macaco.
Assim, de modo espontâneo, a didática da verdade vem à
tona pelo discurso informal das pessoas, restando, aos que escutam usufruir as
leis naturais que a oralidade tão bem demonstra.
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