Era pouco antes da meia-noite da
segunda-feira, 04 de agosto de 1930, quando o apito da maria-fumaça ecoou na
Estação Ferroviária, dando partida na composição da Rede Viação Cearense que
levaria o efetivo do 23.º Batalhão de Caçadores, sediado em Fortaleza, com
destino a Lavras da Mangabeira, no inteiro do Estado. A missão ainda não
revelada do contingente viria a ser de vigiar o acesso ao Estado da Paraíba,
onde, na cidade de Princesa, ocorreram confrontos ameaçadores da ordem federal.
Sob as ordens do tenente-coronel
Pedro Ângelo Correia, o 23.º BC se deslocaria até Sousa, levando no seu bojo,
porém, inoculados germes da conspiração entre os oficiais, que logo engajariam
na revolução a se alastrar no País inteiro.
Contudo, o comandante da tropa
seria o maior entreve a essas movimentações rebeldes, dado seu zelo ao posto e
o rigor no cumprimento do dever militar, firme vontade e enérgico nas atitudes,
o que demonstraria mais adiante, face ao desenrolar dos acontecimentos.
Às 17h15 do dia 06 de agosto, o
batalhão chegou a Lavras. No dia 12 daquele mês, às 6h30, voltou aos trilhos
com rumo ainda ignorado pela soldadesca, às 13h adentrando a cidade de Sousa.
Naquele dia se fechava o cerco à
Paraíba pelas tropas do Exército, no sentido de evitar o levante armado que
fermentava no Estado após a morte de João Pessoa, alimentado com armas e
munições que cruzavam diversos pontos da fronteira.
Iniciavam-se, no entanto, as
defecções entre os diversos níveis da guarnição. Pensasse que não e o movimento
tenderia a crescer, originário de outras fontes externas, no próprio oficialato
de outras corporações.
Na madrugada de 04 de outubro,
ouviu-se um disparo de fuzil efetuado pelo primeiro-sargento Manuel Francisco
de Lira, fiel ao comandante. Desde então ações desencontradas mobilizariam o
Posto de Comando. De início, os insurretos pretenderam anular pela força física
Pedro Ângelo e evitar maiores conseqüências. Após aquele tiro as coisas se
precipitaram.
O comandante chegou na porta do
posto, local de imediata afluência dos soldados e oficiais, e quis saber a
razão do barulho inesperado.
- O batalhão está sublevado sob o
meu comando, e o senhor considere-se preso de ordem do general Juarez Távora –
foi a resposta do tenente Ary Correia.
Indignado e reafirmando a sua
condição superior, Pedro Ângelo lhe fez fogo à queima-roupa, gerando daí
celeuma intensa, tanto dentro, quanto fora do prédio.
Algumas horas mais e o claro da
manhã que se aproximava evidenciou outras escaramuças, nas quais sairia ferido
com gravidade o major João César de Castro, caso testemunhado pelo único
sobrevivente da hora, o soldado Clóvis, sua ordenança. O comandante Pedro
Ângelo Correia resistiria com denodo aos rebelados.
Segundo descreve Otacílio Anselmo
e Silva, à época integrante daquele batalhão, no artigo O Ceará na Revolução de 30, publicado na revista Itaytera n.º 1, de
1955, do Instituto Cultural do Cariri, Crato CE:
O soldado Clóvis ouviu o derradeiro brado do herói: Não morrerei acuado como um cão. Vou morrer no campo da honra.
O soldado Clóvis ouviu o derradeiro brado do herói: Não morrerei acuado como um cão. Vou morrer no campo da honra.
Vimo-lo reaparecer no meio da área e penetrar no banheiro ao lado
oposto de onde saíra, após executar um disparo. Uma bomba arremessada sobre o
teto afugentou-o dali. Ao sair, foi colhido por uma descarga no centro da
pequena área, junto ao portão de ferro. Tombou fulminado, em decúbito ventral.
Tinha à mão direita uma pistola Parabellum, sua arma regulamentar; no bolso traseiro da calça estava o seu
inseparável Smith & Wesson com o
cano voltado para cima; e a seu lado, não muito longe, o mosquetão que lhe
saltara das mãos. Seriam sete horas da manhã.
Ao ser notificada, por emissário
do 23.º BC, de que Pedro Ângelo se achava preso e com saúde após a rendição do
batalhão que comandava em Sousa, sua esposa, ciente da coragem e obediência do
companheiro, dissera aos filhos do casal:
- Filhos, botemos luto; vosso pai
morreu... – de acordo com o texto acima citado.
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