Quando
palavras querem sair elas acham jeito ideal de nascer e falar bem alto nos céus
azuis. Houvesse, pois, menos ruído entre horas e dias, e ouvir-se-ia a música
das manhãs festivas, pássaros cantadores e o vento soprando gostosas as
histórias do tempo, com toda intensidade imaginária. Contudo atrações
insistentes do burburinho invadiram becos e vilas, enchem de ondas os ouvidos e
escorrem aceleradas pelas paredes do estômago da gente. Avestruzes, traumas,
lutas e viagens, na rotina dos animais velhotes racionais, começam a dar soco
no ar, por determinações dos aleijões feitos a capricho na civilização de
plástico e açúcar.
Às
primeiras vezes, quase ninguém notava viver de improviso e perderia o charme da
beleza original, força do inesperado que dissolveu a suavidade primitiva.
Depois, lá adiante, preenchido o espaço do sexo à boca, agora imitam modinhas
do passado, ritual guardado nas gavetas das emissoras de rádio. Comem o pão
seco mofado nas prateleiras da saudade, marcados no andar monótono dos
quebra-molas e trilhos pretos das estradas; pisar só onde permitem os boletos
bancários e as normas das companhias aéreas...
Ninguém
que se preze acreditaria nas mudanças oferecidas em pacotes promocionais da
mídia dominadora. Bichos de bingos eletrônicos e armas mortíferas apenas
dominam a tela dos escritórios e o número das datas nos calendários antigos e
engolem espécie de parasitas chegados nas caravelas, numa conclusão melancólica
do capitalismo selvagem.
Enquanto
poucas chances existem de aguardar respostas melhores da horda bárbara que
alucina e ilustra os corpos nas tatuagens dos ídolos desaparecidos, figuras
queridas nos filmes continuam as batalhas da cultura de sucata. Poucos, raros
talvez, avaliam os desejos verdadeiros de encontrar liberdade real além dos
vícios, da desilusão, desespero. Meios de nortes possíveis na transformação de
objetos em conhecimento ainda trabalham calados, invisíveis nos grupos
isolados, na clandestina romântica.
Reunissem
caravanas todas que seguem o deserto dos relógios, e formar-se-iam imensos
pelotões de rebanhos alternativos à cor do consumo, angústia de não saber, para
custo final do melodrama atual. Peregrinos de si, valorosos guerreiros
cautelosos, entregam capacetes e fuzis nas praças públicas, longe da ganância
dos líderes que comandam. Velhos corações esfacelados de paz rifam a dor e
enxugam as feridas com o lenço da esperança, acesos olhando o que restou de
alegria nos vales do silêncio dessa intensa felicidade.
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