Inícios dos anos 70,
quando o Cariri recebera os primeiros sinais de televisão, e assisti, na TV
Tupi, a uma matéria do polêmico apresentador Flávio Cavalcanti. Constava de entrevista
com antiga cozinheira do Palácio da Alvorada ao tempo do presidente João
Goulart.
Então pedira o
entrevistador que dita senhora contasse qualquer detalhe das experiências vividas
à época junto do Presidente depois afastado pelo golpe militar de 1964. Ela
lembrou ocasião quando indagara de Jango dos seus sentimentos quanto ao exercício
do cargo de primeiro mandatário da Nação:
- Presidente, é bom
ser o Presidente?
Goulart ouviu a pergunta
daquela senhora simples, responsável pela preparação dos alimentos de que se
servia na residência oficial do Governo, em Brasília. Guardou silêncio durante
alguns instantes e de olhos estendidos no vazio da imaginação avaliou:
- Sim, é bom ser o Presidente,
mas há momentos em que não gosto nem um pouco desta função. E ainda
acrescentou: - Isso porque nunca sei que são os amigos e inimigos. Ali na
frente, todos se desdobram para agradar, mostrar serviço, querendo aproximação,
atenção. Por trás, ninguém sabe o que acontece dentro deles, dos que privam da
nossa confiança, do nosso convívio pessoal.
Com isto, guardei na
memória as palavras do estadista maior do País em fase crítica e contraditória,
vítima posterior das demaches políticas que lhe destituíram do cargo de modo
arbitrário e o jogaram ao exílio uruguaio, onde pereceria sem direito de regressar
ao Brasil.
O poder impõe
condições assim, exclusivas e solitárias, segregando líderes a reduto de cidadelas
inalienáveis, camarilhas mantidas a sete chaves pelos apaniguados, cordões
sanitários dos interesses particulares. Sobremodo em épocas de conflitos, nas
lutas típicas de comando, há negror e conspiração da parte de assessores íntimos
dos governos, de si já distantes em as relações com o povo. Insistem nos
métodos tecnológicos recentes na montagem de pesquisas, estatísticas por vezes
forjadas nos gabinetes maquiavélicos a peso de ouro e custeadas pelo erário.
A propósito de tais
reflexões, Jango fora ministro e discípulo herdeiro do trabalhismo de Getúlio
Vargas, presidente brasileiro que também amargurara a decadência do poder e
final melancólico, dez anos antes, capítulo de nossa história de tantas indagações
a responder.
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