quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O Barracão



Lembro da época de pequeno, por volta dos três anos de idade, quando íamos, nos domingo de tarde, até o Barracão. Eram poucas casas e uma construção maior, de taipa e telhas, situadas à margem da Rodovia Crato – Fortaleza, no Triângulo de Várzea Alegre, próxima ao Tatu, e que servia de apoio aos viajantes da redondeza. Dali meu pai viajava ao Cariri central, através da Serra de São Pedro. Dava ele, naquelas mobilizações semanais, início de estabelecer atividades profissionais em Crato, para, adiante, trazer consigo o restante da família. Aos poucos, deixaria o sítio em que trabalhava junto de meu avô por quase uma década. Venderia legumes e gado a fim de reunir algum capital de tocar as novas experiências produtivas.
 
Não havia ônibus de carreira, apenas o misto, transporte híbrido formado de metade caminhão, metade boleia, que pertencia a Chagas Bezerra, o responsável pela posterior criação da Viação Varzealegrense, empresa de ônibus que muitos serviços prestaria aos nordestinos que fugiam das secas rumo ao Sul do País.

Hoje vejo que esses fiapos de lembranças resistiram fácil ao desgaste do tempo devido às intensas emoções que levantavam nas oportunidades que viraram rotina, saudades casadas de incerteza a envolver todos nós. A vida no sítio terminaria em pouco, sujeita às intempéries do semi-árido, que oferecia de chances insuficientes perante as incertezas do Sertão. Que fazer no sentido de educar os filhos ali nos matos, afastados da cidade e das outras inovações do pós-guerra mundial?

Joaquim (Quinco) Monteiro, irmão de minha mãe e meu padrinho de batismo, era quem incentivava meu pai a cumprir as radicais mudanças de largar o torrão natal e reconstruir história, isso nos idos da primeira metade dos anos 50.

Desde então, a face do êxodo familiar pontual repercutiria na formação dos filhos e netos, atitude corajosa do chefe da família no momento crucial da importante decisão. Por outro lado, o Brasil rural da matriz feudal nordestina mudaria, também, para o modelo urbano industrial, ora praticado nas diversas regiões nacionais, a exportar matéria prima e importar produtos acabados, sob a órbita das potencias ocidentais desenvolvidas. Há previsões estatísticas de que dentro em breve, até 2020, atingiremos 90% de habitantes a morar nas cidades, em detrimento do campo esquecido, agora entregue só às incertezas de ressequidos marmeleiros.
  


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