quinta-feira, 17 de julho de 2025

A fome das palavras


Espectros vazios a percorrer vagões sem fim desse universo tão pequeno lá de dentro das criaturas humanas. Só, tão só, meras frações do anonimato a revelar o que transportam, contudo em fragmentos de várias cores, de tantas formas, testemunhas isoladas, no entanto que reúnem largas histórias, narrativas sem conta doutros firmamentos ora desaparecidos. Trazem na alma o destino dessa infinitude. Conversam nos longos textos e os entregam ao silêncio de depois, ou de nunca mais, presas que ficam aos escombros desses momentos esquecidos.

Mesmo assim, trazem consigo as aventuras de toda existência de antes, entes escassos, visagens e solidão. Marcas fortes de quantas cicatrizes, dali fazem as guerras, as promessas de outro futuro, desde quando avaliações e jogos ficam largados ao léu de toda sorte. Elas, cascalhos das consciências e guardiães de infinitas memórias. Vultos isolados de epopeias e credos, alimento dos deuses e decisões apressadas dos mistérios astutos.

Veem-se que tal perdidas ao relento dos séculos e instrumento sórdido das aventuras errantes pelo solo da imaginação. Nisso, observam a si e descartam quaisquer possibilidades dalguma resposta por demais verdadeira aos dramas dessa humanidade indiferente. Luzes, por vezes. Noutras, sarcasmo, servidão e desgosto. Raízes de toda discussão, porém acesas aos gestos corporativos, ingratos. Sabem ter vida, sortilégio dos poucos que as dominam e delas são escravos, no contar das gerações.

Mistos de calma e dúvidas, apenas percorrem o senso das melodias nas noites, quais insones espectros feitos do tecido amargo do Tempo. Querem ter existência individual, todavia se restam mancomunadas aos objetos do desejo nas madrugadas frias. Espécies de instinto originário das necessidades desses que delas fazem uso, querem haver sem passar pelos gestos inúteis dos dias do quanto padecer, e abandonam ao relento os sonhos que trouxeram até aqui agora. Escutam, acreditam, insistem, verbos suficientes de conhecer os céus dos seus limites...

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