sábado, 12 de julho de 2025

Alho e óleo


Era década de 70 quando vivi em Salvador. Trabalhava no Setor de Cadastro do Banco do Brasil, na Agência Centro, situada no Comércio. Próximo a mim, no mesmo setor, Rômulo Serrano Filho também cumpria suas funções. Um dos bons amigos que viera de conhecer na Bahia. Artista plástico (desenhista e pintor) de respeitável qualidade. E sempre planejávamos que o visitasse em sua residência, na Rua Itabuna, no Rio Vermelho, perto da praia, isto nos dias de sábado, de folga no trabalho. Lá conversávamos um tanto, passeávamos pelas imediações até o horário do almoço, quando sua esposa, Dona Lucíola, tinha sempre surpresas valiosas a nos oferecer nas refeições. Numa dessas oportunidades, seríamos contemplados com um prato raro, macarrão alho e óleo, o que Serrano, inclusive, me avisara no decorrer da semana.

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Tudo conforme o previsto, prato aquele a mim totalmente desconhecido, mas que saboreei com gosto até além da conta, sendo que, passadas algumas horas, eu pegaria o ônibus ao Centro, indo, de comum, assistir a bons filmes, diversão por demais do meu agrado, o que eu usufruía das tantas boas produções exibidas nos cinemas da época na Boa Terra. Daquela feita não seria diferente. Ainda meio enjoado pelo prato exótico que de há pouco experimentara, partiria ao meu lazer cinematográfico.

Num dos cinemas das imediações da Praça da Sé, o Tamoio, viria, daquela vez, um filme cujo título me chamara a atenção (Será o que o nosso herói conseguirá achar o seu amigo perdido na África?), dada a fartura de palavras nele utilizadas.

Assim, para meu espanto, no decorrer da trama da história, na viagem do protagonista pelo Continente Africano à busca do tal amigo, vejam só qual o prato lhe seria servido certa hora (macarrão alho e óleo), para meu espanto e aumento do enjoo que já me tomara o estômago. Mesmo daquele jeito, fiz da fraqueza a força e pude acompanhar o encontro dos dois, do herói e seu amigo ali perdido na África, ainda que ao custo dalgum esforço e maior concentração, naquela tarde que conhecera de tão rara alimentação, e nunca mais.

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