sábado, 10 de junho de 2017

Acomodação e esforço

De acordo com as orientações dos instrutores espirituais, existe uma margem de aprimoramento da pessoa que significa renunciar às facilidades e usufruir os ganhos dessa dedicação. Perder agora e ganhar mais adiante. Perder em comodidade e ganhar em evolução individual. Largar de lado as vantagens do conforto material e desfrutar os méritos de uma personalidade firme. 

Quanto a isso, queremos contar o que li recentemente, no próximo livro de Levi Wenceslau do qual preparei os originais, visando sua futura edição. Trata-se de crônicas emocionantes desse amigo, inclusive algumas delas enfocam seu momento atual, limitado nas ações físicas face ao acidente automobilístico que lhe deixou tetraplégico. 

Numa dessas crônicas, conta que, ao ser indagado quanto a uma vontade em que se ver limitado face à condição, diz ser grande sonho de poder caminhar, um dia, descalço pelas areias da praia. Quanta simplicidade em gesto tão ameno, e não poder usufruir o que muitos o fazem e nem valorizam tanto. 

Existe aquela história de alguém dizer que vivia reclamando de não ter sapatos, e certa feita encontrar uma pessoa que não tinha pés. Nós, humanos acomodados, de comum somos luxentos, exigentes, dengosos. De querer tudo nas mãos, de comer mastigado, uns preguiçosos morais que por vezes sempre somos.

Preciso é, pois, deixar de lado a acomodação e sair à luta de todo dia. Matar um leão pra poder sobreviver, e por isso os leões estão quase extintos na civilização industrial. Vender o almoço pra comprar a janta, como dizem os mais apressados. Agir com ânimo e viver com disposição e coragem de tocar adiante o barco e os dias.

O que aconteceu, comigo, depois de ler a crônica de Levi, e saber da sua vontade de caminhar livre pelas areias da praia, é que agora passei a andar com mais prazer, deixando o carro mais distante, desfrutando as pisadas que dou  pelas ruas da cidade.

Um comentário:

  1. Pisadas na areia... como é bom se ter oportunidade e liberdade de andar livre, leve e solto... cabelos ao vento, pés no cháo e cabeça nas estrelas... mas a vida é mais do que isto, às vezes precisamos matar leões por outros motivos que não os titames da sobrevivência.

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