terça-feira, 25 de abril de 2017

Há que se pensar

As mudanças de viver que restam às pessoas, os rastros da Lua Cheia nas madrugadas, os metais com que fazem as armas de matar as feras que somos nós, em tudo e por tudo há que se pensar. Diante das ilusões extremas de passar o tempo em meio a tantas inutilidades que significam transcorrer os calendários nas frias ausências, as pessoas a cruzar o caminho umas das outras, os veículos espaciais a circular nas mentes enganadas, tantos temas e coisa alguma, há que se pensar, imaginar, usufruir. Enquanto as poças do inverno enchem e secam aos sabores do vento, do Sol e dos momentos, a refletir estrelas e carrosséis, multidões indefesas perante os tribunais do dia, marcas avermelhadas no cristal do firmamento, tudo por tudo, deixa margens imensas aos horizontes da verdade, à medida que palavras nada dizem e o desejo imenso de responder aos enigmas parece fazer nenhuma diferença.

Em todo parágrafo da escrita, um passo na história da sobrevivência. Sinais de estradas escondidas nos socavões doutros mundos. Vontade soberana de achar as respostas que desaparecem sempre a toda esquina, deixando vazios abertos às novas oportunidades que sucedem. 

Aos poucos, na repetição das frases, o prazer de descobrir a inexistência da matéria que simplesmente representa apenas energia em movimento nos objetos e nas pessoas. Pedaços de reinados jogados fora, os sentimentos quase falam de vilarejos abandonados, nas montanhas mais distantes de si mesmo. Películas e películas sem nexo. Sabores inúteis de frutos proibidos. Olhos dos animais selvagens iluminando as sombras. 

Quisessem reunir assim num só e único bloco de significados tudo quanto existe, o Eu sobraria livre de solucionar os objetivos de estarmos aqui e pouco saber do final desse drama humano. Doses de indiferença das criaturas em relação a elas e às outras bem revelam quanto viver reclama de que há de se pensar muito e por demais.

(Ilustração: Salvador Dali).

Nenhum comentário:

Postar um comentário