quinta-feira, 27 de abril de 2017

A infâmia da contradição

Vejam quem me pego lendo, diante dos absurdos em que a política se reverteu neste começo de século no Brasil. Jean-Paul Sartre. O Ser e o Nada. O velho problema da liberdade e da responsabilidade de novo a levantar a crista, no auge de todas as agruras morais do neoliberalismo que dominou o mundo inteiro, não sendo aqui exceção. E a classe política estéril deita os intestinos ao terror da inutilidade. Talvez inimaginável diante de todas as ficções, tão só culpados chegam ao palco das sombras de mãos abanando, a receber prêmio do fracasso que impuseram ao tempo.

Não bastasse em que se transformou o senso clássico da administração da sociedade, herdado de gregos e romanos, apenas o interesse individual prevalece e deita seus tentáculos a credos e cores, numa sanha de ganância jamais prevista nas terras cabralinas.

O desespero pequeno-burguês de arrecadar em conta própria, confiar em quem agora?, toscos parasitas de boteco. Em que fragmento, que ideário, quais sonhos... Enquanto a massa populacional apenas repete os slogans vencidos do desespero e da alienação tecnológica. Passar aos outros embriaguez de fama, dos prazeres fáceis, na intenção da cidadania inexistente. A que santos acender as velas? Era infame esta, quando a História exige atitudes e entendimento e os filmes viraram superproduções ideológicas descartáveis. 

De cabeças enterradas na areia, o exército dos acadêmicos entediados apenas reclama melhores salários a fim de preservar a dominação do gigante Moloc, senhor das terras e dos mares de todos os continentes. Ninguém sabe mais onde mora o dono da máquina totalitária que impera nos mercados digitais. 

A liberdade, esta esqueceram nas prateleiras do passado. A responsabilidade, a transferiram aos outros por demais, aos zumbis dos subúrbios, que ainda insistem manter funcionando a máquina esfumaçada e vadia das antigas fábricas. 

Nisso, urgente, olhos postos na realidade inevitável, a consciência humana impõe o compromisso das horas aos ombros das novas gerações. Admitir o erro requer humildade e profunda reflexão de tudo, da incompetência posta em prática até que hora, onde quer que seja. Os horizontes cinzentos, sim, gritam aos ouvidos das maiorias silenciosas o dever que lhes chama, no mínimo a título da sobrevivência de uma espécie bendita. 

(Ilustração: Jogos infantis, de Pieter Brueguel).

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