sábado, 18 de junho de 2016

O frio e a solidão

Nas madrugadas frias dos invernos intensos aumentam as saudades de quem ama por mais quentes sejam os cobertores. Nalgum lugar restou vontade imensa de querer o calor humano dos entes queridos, distantes ou próximos dali do lado. Soberana beleza das companhias agradáveis aquece não só o corpo, máxime o coração das pessoas. Isso em todas as relações apresenta essa cara parecida, desde entre seres primitivos até chegar nos bichos pensantes. Cerca daqui, atalha dali, e cresce a busca das companhias ideais, atividade quiçá impossível não fossem as parecenças dalgumas presenças que tocam a gente deixando marcas profundas de sentimento, doces projetos desfeitos ou continuados, porquanto o que somos mesmo é solidão ainda que a dois, ou multidões.

Porém ninguém que se preza nutre o desencanto das esperanças deste mundo em face um dia de achar a cara metade que lhe completará no frio dos invernos, mostra de alimentar o desejo de felicidade, satisfação no decorrer do tempo quando movemos as marcas desta matéria e deste chão. Olhares trocam probabilidades e os traços e planos envolvem cobertores aquecidos nas tais madrugadas de solidão.

Nesse passo a vida segue seu curso de realizações dos desejos, enquanto imperam os sonhos doutras formas de encontrar a perfeição. Primeiro pensar que o outro ou a outra seria de bom alvitre na concretização dos trabalhos individuais de viver. Lá depois se nota inevitável o regresso a si mesmo, onde haverá de reunir tudo que traga real certeza da vida imortal. De jeito nenhum a salvação é coletiva em um só momento. Um a um desvenda o mistério essencial na evolução por conta própria, eis a literatura principal. 

Nas noites frias dos invernos por isso aumenta de si a solidão, porta do segredo original das existências, e quando esfria o corpo cresce o valor de encontrar a resposta das limitações deste universo apenas físico. Daí ser enorme a responsabilidade dos sonhos e a necessidade do calor humano que temos e precisamos dividir com o próximo, parceiro de jornada, nesta escola de amor em que pisamos.

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