sexta-feira, 10 de junho de 2016

A muçurana

Ainda menino, vivendo no Tatu, em Lavras da Mangabeira, lembro os cuidados de meu pai no trato com uma cobra-preta, uma muçurana, que aparecera nas imediações de nossa casa no sítio. Ele oferecia comida e lhe reservava espaço em pequeno barraco onde guardava cangalhas, selas, arreios dos animais. Quase sempre deixava um prato com leite e outros alimentos ao se alcance, a tendo como cobra amiga, em face de notícia que a gente conhecia de que era a muçurana que devorava as outras cobras e nem veneno possuía. Preta retinta, vi nalguns momentos deslizar pelo terreiro da casa sem ser molestada pelas pessoas.


Bem depois, já morando no Grangeiro, em Crato, certa noite avistei, na varanda de casa, um exemplar da mesma espécie (Cloelia cloelia), que ao sentir a nossa presença se retiraria para o mato. Dado saber de que se tratava, não esbocei qualquer reação de defesa. 

Segundo Wikipédia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Mu%C3%A7urana), a muçurana foi catalogada pelo médico e cientista brasileiro Vital Brasil, que apresentou, em 1915, um filme de 1911, no qual uma muçurana brigava com uma jararaca. De acordo com a página da web, a cobra-preta, ou cobra-do-bem, é imune ao veneno de outros ofídios, inclusive destes se alimenta, estando, no entanto, vulnerável apenas ao veneno da cobra-coral.

Certa feita, ouvi de Dr. Jósio Araripe que seu pai, Antônio de Alencar Araripe, também mantivera nas proximidades de casa, na Fazenda Condado, de propriedade da família no Piauí, uma cobra-preta, a qual dedicava atenções nas horas vagas e fornecei mantimentos na intenção de mantê-la para afastar as outras cobras, que dela tinham medo. Dr. Antônio Araripe a denominava de Fideralina, em alusão à matriarca dos Augustos das Lavras. 

Nas poucas vezes quando citei a existência dessa espécie ofídica benigna raramente as pessoas dela demonstraram conhecimento. É uma espécie ofiófaga, isto é, que devora as outras cobras, de conformidade com a fonte acima enumerada. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário