quarta-feira, 8 de maio de 2013

Um escravo branco


Registros correntes indicam as bases da escravidão no Brasil em face do tráfico de negros trazidos do continente africano à época da empresa colonial portuguesa, destinados ao cultivo da cana-de-açúcar, cujo produto final era transportado à Europa por meio dos navios holandeses. Sobretudo traficantes portugueses apresavam nativos e os conduziam ao litoral do Maranhão, de Pernambuco, Bahia e São Paulo, através dos métodos cruéis de privação de liberdade em porões infectos. Raras, raríssimas ocorrências, contudo, revelam existissem escravos de outras procedências raciais que não tais.

No entanto, meu pai falava de existir, entre os escravos alforriados no Tatu, um homem alvo, alourado e de olhos azuis, o qual resolveria permanecer ligado à família ainda que viajasse das terras de Dona Fideralina e rumasse ao Sudeste do País.

Um neto da velha matriarca, Ildefonso Lacerda Leite, que seguira ao Rio de Janeiro, onde cursou a Faculdade de Medicina, certo dia, quando menos esperou, recebeu a visita do antigo escravo da avó, que depois o buscaria em ocasiões sucessivas, mantendo a proximidade.

Sempre que vinha lhe ver até trazia consigo parte dos ganhos obtidos nos trabalhos da Capital Federal, insistindo que recebesse em nome dos vínculos do passado, e pelo reconhecimento dos bons tratos que merecera nos tempos do Ceará. Era tecelão, ofício que praticava com habilidade desde quando vivera na fazenda, em Lavras da Mangabeira, sob o jugo da família do acadêmico.

Essa afeição durou enquanto Ildefonso Leite cumpriu os estudos, prolongado nas boas relações entre os dois.

Lá adiante, Ildefonso regressaria ao Nordeste, indo clinicar na cidade paraibana de Princesa, origens de seu pai, meu bisavô Luiz Leônidas Lacerda Leite. Naquela localidade, contrairia núpcias com Dulce Campos, filha do coronel Erasmo Alves Campos, chefe político no município, sendo, a posteriori, vitimado em momentoso assassinato.

Nenhum outro registro que conheço indica, pois, ocorrências desse tipo de subjugação no Sertão, razão essa que justifica contar trazer a verificação.

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