sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Contradições de contradição


Quero falar dessa mania que a gente tem de querer encobrir o Sol com peneira. Veem-se os menores abandonados rondando nas madrugadas, escondidos da penúria e do gelo da brisa que sopra cortante, e tome desculpa à consciência, lente exigente dentro da alma. Anciões jogados às calçadas da multidão indiferente, dormindo, ou embriagados de realidade; e calma, calma, que o leão é manso, e as autoridades competentes resolverão logo o caso dessas pessoas. Crianças em idade escolar, perto das filas das farmácias e lotéricas, de mãos estendidas, pedintes da injustiça social, e seleciona moedas menores, deixando caí-las nas mãos desenganadas, juntando migalhas que gastam nos salgados e doces, vazios alimentos de vazias soluções individuais.

Houve um tempo, quando falaram de Estado Novo, Prá Frente, Brasil, Diretas Já, Nova República, Brasil Grande, Povo no Poder, lemas assim, frases de efeito, mudança, renovação, socialismo, euforia generalizada nas instituições que revisariam seus quadros nas eleições. Quase tudo dorme a sono solto. Promessas vagas de sonhos ainda circulam as planícies das cabeças em festa democrática, saudades das revoluções verdadeiras.

O tropel desfila nos corredores dos palácios em forma de fantasmas de erros largados nas ruas da amargura, jovens presos, viciados em droga no pleno do vigor físico, idade cheia infinitas vezes na seiva da Civilização, vendidos ao trato da justiça dos homens, matéria prima de penitenciárias infectas, nesse mundo de fria inteligência tecnológica, sedentos de segurança inexistente nas malhas da Eternidade.

Olhos abertos aos painéis dessa fama, artistas da mídia efervescente, deuses do Olimpo da contemporaneidade, vagueiam soltos nas mesas dos diretores de televisão, bichos de cargas expostos à execração pública, devido aos pecados contra a família, no pino do horário nobre dessa máquina de fazer alienados.

Os desmandos da história criada pelos fabricantes de ilusões, mercados abertos da fome de valores que transformassem o desejo de construir as chances da igualdade para todos, cidadãos de olhos arregalados nas flores da agonia de viver e ser feliz, ao encalço das bocas de feras desconhecidas, cevadas em bolsas financeiras, famintos aplicadores na roleta da dominação industrializada.

Ah, contradições de contradição, paraísos artificiais na caminhada solitária de seres limitados ao tempo da curta duração dos dias, sem amor e vontade que acordem cedo e durmam tarde, peixes egoístas presos nas redes que trituram autores de obras imaginárias, amantes de si mesmos e projetos futuros da felicidade, na elaboração do Destino misterioso. Amanhã.

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