sábado, 9 de fevereiro de 2013

Afonsinho


1977 em Crato. Segunda quinzena de dezembro. Fagner fizera apresentação na Quadra Bicentenário, em show que ajudamos a promover, época posterior ao seu disco Manera, Fru Fru, Manera, trazido pelo empresário Francis Valle, nosso amigo. Com ele vieram Afonsinho, Amelinha, Wiron Batista e mais duas pessoas das quais não recordo os nomes. Permaneceram no Cariri quatro ou cinco dias. Organizamos um futebol no Itaytera Clube, num sábado à tarde, com a participação de Afonsinho, Fagner e Zé Luiz Penna, outro artista que também estava aqui na ocasião, hoje deputado federal e presidente do Partido Verde. Passearam em Juazeiro do Norte. E eu os receberia na casa de meus pais durante o período que demoraram na região.

Pude, então, conhecer de perto Afonsinho (Afonso Celso Garcia Reis), atleta do futebol que ganhara a mídia nacional por se rebelar contra a situação do profissional jogador de futebol submetido a empresários e dirigentes, obtendo na Justiça o direito ao passe livre, de que foi o primeiro detentor, instituição sob cujo nome o cineasta Oswaldo Caldera realizara, em 1974, filme longa-metragem documentando o feito, que circulava as salas do cinema engajado pelo Brasil afora.

Figura ligada também à música popular, vinculado ao grupo dos cearenses da MPB, seria esse o motivo da sua aproximação com Fagner, Francis e Amelinha, que lhe trouxeram ao Nordeste naquele momento. Pessoa politizada, alegre, gostava de cantar samba, de trato leve e amigo. Conversador, admirador da literatura e dos bons valores culturais.  

Daqui segui com eles a Orós, residência dos pais de Fagner, onde permanecemos dois dias, com Wiron, um dos filhos do industrial Eliseu Batista. Era véspera do Natal, que juntos comemoramos, e, no dia seguinte, viajamos até Fortaleza, e ainda permaneci, poucos dias mais, com o mesmo grupo.

Agora me voltam esses fragmentos de memória depois de assistir, na televisão, a matéria extensa quanto às relações que existiram entre o futebol e a política nos anos da ditadura militar, citando inclusive o desempenho marcante de Afonsinho, que ergueu a bandeira da autonomia profissional dos atletas em meio à repressão e aos conchavos da corrupção no esporte e nos palácios. Era fase perversa, tempos da Operação Condor, tristes idos que mancharam de sangue a história, com as alianças escusas dos regimes ditatoriais da América Latina deixando rastro de dolorosas perdas.

Afonsinho chegou a defender times conhecidos, quais Olaria, Botafogo, Flamengo, América de Minas, Santos, Vasco da Gama, Fluminense e Madureira. Envergara a camisa do Botafogo na segunda metade dos anos 60, e conquistara diversos títulos, tais o Campeonato Carioca de 1967 e 68, e o Brasileiro de 1968.  

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