domingo, 24 de novembro de 2024

Há um tempo...


... Quando pouco nos interessa relembrar, só relembrar, o que passou, das tantas vezes quando a saudade bateu à porta e fez morada no íntimo da alma. Esquecer novelas, filmes, livros, histórias, fotografias, presenças, tudo mais que seja, porquanto apenas toca de perto a existência e o que ficou atrás e ali permanece qual instrumentos fora de uso. Deixar de lado as horas de solidão, de lembranças boiando nas chuvas doutros invernos transcritos, roupas velhas largadas a um canto qualquer, trastes que serviram e desapareceram tal que por encanto. Os lugares onde viveu a infância de tanta imaginação, as pessoas com quem conviveu, as paixões, os planos de futuro que viraram fumaça, as nuvens em movimento nos céus doutras vivências, etc. Sim, os etcs que sucumbiram à força do tempo voraz; as festas, os passeios, as viagens, datas magnas, reuniões, sessões solenes, falas, escutas, entrevistas, rotinas, textos e contextos, um quase tudo, enfim, que aonde foi parar ou sumir, quem sabe? Enquanto isto, resta aqui de junto seguir estrada afora, a fora de onde? As perguntas sem resposta; as respostas sem perguntas.

Nisso, depois, agora... Longas distâncias percorridas no caudal das escolas, nesta escola da vida. As famílias, as chegadas, as despedidas; as músicas que marcaram época e o coração; um movimento sem fim de si mesmo perante paisagens, objetos que esconderam tantos dramas, tantas alegrias. Por certo esquecidos de nós próprios, que depois mergulharíamos nas águas do firmamento a sustentar marcas fincadas nos sentimentos, cicatrizes irreparáveis, tatuagens, talvez ainda nesta busca de compreender o céu da Consciência, o eterno perscrutador dos novos desejos, das prospecções de sentido que restam guardadas lá dentro da presença que insiste permanecer à janela dos dias, na esperança de nem ser consigo o que percorre essa faixa estreita de continuar que nunca para, a desfilar aos nossos olhos acesos.

Momentos que insistem dizer, e ficamos só absortos noutros motivos, nos esquivos personagens da gente encapuzada nos sonhos e fugitivos das eras, até quando algum dia desses, então.  

Um comentário:

  1. Você tem sempre uma magia que encanta nas palavras que escreve. A simplicidade e a sensibilidade de passear pelo tempo atemporalmente e driblar a solidão com uma fonte inesgotável de sentimento leve, sincero e verdadeiro

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