quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Há tempo em tudo


Quando me vêm as lembranças ocasionais, livres de serem chamadas, e me tocam os pensamentos e sentimentos, claramente observo que quem passa somos nós e não o Tempo, que permanece altivo nas lembranças acesas, a regressar quais seres em si independentes. Nisso, tais habitantes de um mundo próximo deste, no entanto vivo, indestrutível, a bem dizer eterno, sobrevivem em tudo e seguem adiante dotados de qualidades até aqui ignoradas. Minérios de subsolo gigantesco, compõem o quadro das horas e sustentam a estrutura firme do Universo de que também somos parte.

Num esforço descomunal, se deseja resistir aos caprichos desse Infinito poderoso, todavia mero empenho que, de novo, desaparece ao mesmo tempo donde tudo viera, nós, inclusive. Resta, nisto, a substância da memória, que fertiliza o subsolo da imaginação. Fragmentos, pois, dessa trilha inigualável do Tempo, somos testemunhas daquilo que nos faz, dia a dia, também senhores de um resultado perene, a soma de todos os instantes, que só aparentemente transcorrem, dessa aquarela maravilhosa da Natureza.

A conta disto, formulamos as mais diversas composições de perfazer existências, enquanto assistimos submissos o fluir das gerações, e nós e os nossos momentos em volta. À medida em que desfazemos a história, somos assim desfeitos, em contrapartida, pela sequência inevitável das horas, atores e diretores de peças estonteantes nos palcos da visão que logo se desmancham pelos ares.

Tanto pedem, contudo, que não seja, e que pudéssemos prevalecer face ao destino, sonho por demais elaborado que constitui a luz da Consciência na busca da perfeição, no sentido das filosofias, religiões e inspirações. Conquanto lá, então, desejemos tamanha esperança, somamos os pensamentos e sentimentos trazidos pelas lembranças, no sonho de realizar a plenitude desde sempre alimentada.

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