Tantas vezes a memória deseje conhecer a si mesma, nessas horas recorre às palavras, num afã de causar espanto aos menos avisados. Por isso, há infinidades de livros espalhadas no chão, desde sempre. No início em pedras, fiapos soltos de couros e sobras de vegetais envelhecidos; depois, nessa fome de continuar, vem a razão de quantas pelejas e inúmeras guerras siderais, desejo de muitos em contar do instinto da procura e das dores da ausência.
Talvez dadas essas justificativas, quer-se a todo custo achar
um espaço à compreensão, enquanto, na verdade, são esforços desmedidos a conter
o silêncio, este que jamais deixou de controlar as horas e dominar os
pensamentos. Mas ainda que seja assim, lavas vulcânicas de sentimentos seguem a
trilha do passado e invade os olhos dos humanos. Palavras, palavras mil,
durante essa fome do desejo, susto de viver dos que estão feitos vultos assombrados
na procura da Luz.
Conquanto meras letras mortas do Destino, essa multidão
entontecida às noites sai no encontro de rever saudades agressivas e adormecem
sobre o palco das lamúrias, querendo, qual seja, ao menos sustentar o sonho de
sobreviver a qualquer custo. Bem nesses instantes, todos valores preenchem a
barca do Infinito. São espécie de desencontros em face do inesperado, cientes,
até, do que lhes possa vir da aventura incessante que transportam no peito,
senhores de iguais e sórdidas penalidades do que seja desconhecer as razões de
estar aqui bum só instante.
Nessas ocasiões de amargurar a solidão da própria alma,
nesses momentos de susto e lucidez inevitável, elas, as palavras, gritam no coração
a pedir paz, humildade, compreensão. E avançam caladas pela floresta escura do
desconhecido, a rasgar derradeiros motivos de continuar e vencer o distanciamento
vindo nas mesmas mãos que os sustentam nas dobras do mistério. Daí o fulgor que
ilumina céus e terras, pelas folhas esquecidas de todos os livros abandonados nas
ilhas do esquecimento. Nisto, regressam gerações inteiras, ao som das sinfonias
esplendidas que alimentam e acalmam as angústias de existir.
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