Vez em quando a gente se contraria à toa querendo mudar o mundo enquanto a grande maioria o quer do jeito que acontece. Uma das razões principais, senão a principal, de tudo andar qual segue, fica por conta de todos e não de apenas um único. Nem de longe adiantariam os longos discursos filosóficos, as tiradas reflexivas, pois, no somatório, resta pouco de seguir outras estradas senão essa. Isso, tal forma de ver, facilita um tanto no bem-estar pessoal, sobretudo daqueles ditos idealistas que pretendem ver adiante doutro modo, esquecidos que quem manda é a totalidade e não as partes isoladas. Tem sido assim desde sempre. Mesmo porque a perfeição serve só de parâmetro, e gosto não se discute.
Machado de Assis escreveu um conto a propósito disto, O alienista. Nele, o personagem via
detalhes que deveriam ser diferentes, modificados, refeitos. Buscava respostas
convenientes a tudo. Achava incoerências, imaginava transformações, idealizava
novos métodos. De tanto achar defeito ou necessidades, acaba isolado em si
próprio qual o motivo das imperfeições, deixando a sociedade tocar seu curso
rumo ao que quer que seja.
Os políticos idealistas são semelhantes. Acreditam nas
transformações sociais, nos novos métodos de corrigir as condições insuficientes
dos grupos humanos, em jeitos novos de mudar o mundo, isto durante as práticas que
vê em voga. No entanto, lá um dia reconhecem o peso da voz geral que determina,
e nisso baixam a cabeça e passam as gerações na História humana que fala disso
desde as primeiras experiências da raça.
Os hábitos e costumes individuais pesam sobremodo em relação
aos acontecimentos, porquanto ninguém será um ser sozinho na multidão. A
multidão significa o resumo da opinião de todos. A cara da civilização mostra o
somatório geral, e nisto o barco dos erros e acertos, que preenche os livros e
reserva as lições do Tempo. A quem se queixar, a todos e a cada um em
particular, pois.
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