sexta-feira, 14 de abril de 2023

Os autores


De uns tempos até agora veio à tona essa urgência de comunicação. Antes havia qual que apenas uma conformação junto das cartas, dos papiros e livros guardados nas estantes mais inacessíveis à multidão, talvez (quem sabe?) em face da velocidade menor dos acontecimentos da época. Nisso, vieram guerras centralizadas na Europa. Estragos generalizados daquilo que chamavam cultura. Os que salvaram seus livros, tudo bem, os carregavam consigo em pastas e baús, à busca de achar a paz outra vez e, bucolicamente, sentarem a ler e olhar as figuras das publicações que restaram.

Depois disto, e só então, a raça passou a sentir a importância de mergulhar na própria consciência e revisar os valores essenciais. Nesse mal-estar da civilização, são povos inteiros a desaparecer num abrir e fechar de olhos, pois impérios invadem suas nações milenares abocanhando os minérios combustíveis, na intenção de preservar esse crescimento bárbaro do prazer pelo prazer, que adotam na Era de Massa.

Resultado: Sobram os entulhos nas periferias das grandes cidades. O mais são bólides metálicas a troco de preservação da espécie, edifícios gigantescos a cobrir o cenário. Carros mil lançados às ruas e avenidas sem destino claro, chapas contorcidas, tintadas e reluzentes, vagando ao léu pelas antigas histórias abandonadas pelo tempo. Seres quase racionais. Frieza degenerativa. Ausência de calor humano. Meros zumbis da sorte no itinerário constante de comer, dormir e trabalhar, a fim de comer, dormir e trabalhar. Algo assustador por demais.

Conquanto quem escreva pretende dizer do que lhes vem ao sentimento, nisto dotados de máquinas supereficientes, padecem, no entanto à cata das razões de estar aqui, o que delinear das palavras e dos temas, a quem contar dessa procura. Sabe-se de existir esses olhos no escuro que catam do que restou dos derradeiros pedaços. Quais fantasmas, tateiam nessa penumbra. Tocam as paredes frias do túnel da alma, certos de haver, nalgum momento, nalgum lugar, a certeza da Paz em que tanto creem e nela sobrevivem na solidão deste silêncio. 

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