quinta-feira, 13 de abril de 2023

Meros coadjuvantes


Por mais desejemos ser mais, isto é o que somos, tão só meros coadjuvantes desse enredo coberto de tantas e tantas normas secretas. Desejemos ser mais, se é que assim o seja. Vivenciamos histórias mil sob o manto das irradiações matemáticas desse tampo de quantas eras num único instante mágico. Sob o crivo da razão absoluta do Mistério, tocamos o rebanho de nós próprios aos ditames do destino, quase totalmente desconhecedores de tudo enquanto. Mendigos prepotentes da sorte, estendemos os cacos da fama aos quarteirões da Eternidade olhos postos nem sei aonde nem quando enfim.

Bem isso toda vez, toda geração. Os dias passam e neles as pessoas. Gerações que se sucedem num afã encantador pelos palcos iluminados. Uns, às vezes, a pisar nos demais, braços livres a cumprir o papel que desconhecem no cinturão das normas que faz. A gente conta as palavras e as despeja no bisaco da compreensão, arrojados autores dos dramas em andamento. Sei, sim, pudéssemos cumprir outros cenários e o faríamos sem conta. Contudo, por agora, eis tudo o que nos reserva os desvãos da experiência.

E depois de tudo, ainda ser felizes, dever por demais de todos. Sustentar o palco aos nossos pés e fremir o peito de encontro ao cordão de isolamento do público. Aguentar o aguaceiro de saudades que despejam os olhos da multidão enfurecida. Luzes, palco, ação. Nuvens de sofreguidão já começam a envolver outra vez o teto das notícias, enquanto passam aceleradas as levas dos mesmos espíritos reencarnados à procura do Céu.

Houvesse, pois, esta certeza definitiva que desejam os heróis da sobrevivência que o somos, talvez o chão daqui transcorresse numa velocidade bem maior debaixo dos nossos pés cobertos da lama do Dilúvio, pois. Ajuntemos os trastes e sejamos os próximos a embargar na barca dos espíritos.

 

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