Ói, olhe o céu, já não é o mesmo céu que você conheceu, não é mais / Vê, ói que céu, é um céu carregado e rajado, suspenso no ar. Raul Seixas
Hoje, ao ouvir no rádio essa composição de Raul Seixas, recordei de quando, nos inícios da década de 1970, ele lançava o disco Raulzito e Os Panteras, com suas primeiras composições, lírico e inspirado no melhor estilo. Eu ainda vivia em Brejo Santo, querendo me transferir no trabalho para Salvador, e daí sintonizava, nos finais de tarde, a Rádio Sociedade da Bahia. Depois, ele sairia à carreira solo e faria sucesso no País inteiro. Suas letras deixavam margem imensa de avaliações quanto aos tempos dagora, Ói, já é vem, fumegando, apitando, chamando os que sabem do trem / Ói, é o trem, não precisa passagem nem mesmo bagagem no trem / Quem vai chorar, quem vai sorrir? Tempos, a bem dizer, apocalípticos, controversos, cheios de suspense e dúvidas atrozes quanto à sanidade da raça. Quem vai ficar, quem vai partir?
Espécie de profeta insólito, vítima das
drogas que, desde então, campeavam soltas no seio da juventude, sustentou
aqueles tempos de músicas adequadas à escuridão que denotava, às dúvidas que
viriam e ainda agora persistem. É o trem das sete horas, é o último do sertão, do sertão
/ Ói, olhe o céu, já não é o mesmo céu que você conheceu, não é mais / Vê, ói
que céu, é um céu carregado e rajado, suspenso no ar / Vê, é o sinal, é o sinal
das trombetas, dos anjos e dos guardiões.
Bem natural de uma mocidade plena de
sonhos de liberdade, novos valores, ânsias de renovação, cresceu naqueles
conceitos místicos que predominavam da Era Cósmica, do Movimento Hippie,
cercados de medo pelas tantas guerras que há séculos só caracterizam esta
humanidade. Armas, bombas extremas, totalitarismo, ideologias de interesses
grupais, controle de massa, fome e desencanto.
Ói, lá vem Deus, deslizando no céu
entre brumas de mil megatons /Ói, olhe o mal, vem de braços e abraços com o bem
num romance astral.
E veio de dentro de mim uma espécie
de saudade dos nossos ídolos que se foram e nos deixaram aqui de olhos abertos
ao futuro e almas cheias de esperança em dias melhores de que eles falaram
tanto.
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