- Vida de cidade grande. CIDADE GRANDE -,
argumentos anêmicos. Razões do passado, quando plástico era elemento curioso,
como espelhos e fitas coloridas dos portugueses aos índios.
Hoje, tudo ficou diferente, perdido que
está o sonho da combinação artificial das cores. Aquilo de se ser um pouco de
humano - de necessitar da natureza - não mais pode ter compensação nas noitadas
em frente aos vídeos, jogos de futebol e cinema. Quer-se viver de verdade.
Viver de verdade (engraçado, não fosse trágico). Hora de decisão. Onde sobra
querer demorar um pouco mais.
É noite de lua cheia. (- Mas hoje não é
quarto crescente?).
Pouco importa a lua. Vivemos o expediente.
Quinze para as quatro, esquina da Piedade amanhã. Viver. Vegetar. Utopia em
antítese. O retorno, a síntese.
As mariposas nunca mais procuraram a luz.
Luz artificial industrial. Noites de cidade. As noites de apartamento. Ausência
de vida pelo ar. Um cheiro de incenso envelhecido, de mofo. Vidas artificiosas
nos jornais, nas revistas. Sonhos andam escassos, esgotados pelos desanos (anos
de desenganos). Ausência completa de neologismo. Um mundo de silogismo e
sofismas. Saudades amarelecidas, nos varais em volta.
Como dizem os que quebraram a cara: - Do
erro, a recuperação.
De uma falha burocrática de antes, a
máquina tomou o lugar do Homem, dono do Planeta, na ordem natural das coisas.
Alguns sacrificaram todos. Cidades em volta das fábricas. Cidades em tudo.
Monstros de ferro e fogo. A própria brutalidade envidraçada.
Assim, muitos anos. Assim, em volta
espiralada. Sofisticação universal de centros cercados de substâncias
apodrecidas. Noites de floresta. O mundo fantasioso dos ancestrais. As
histórias de Bradbury. Vida marciana. A beleza em tudo. O amor. A consciência.
A justiça. A igualdade. O sonho. A liberdade. A vida. O trabalho. A
honestidade. O equilíbrio. O frio. O quente. O açúcar. O sal. O som. As flores.
As árvores. A criação. Deus.
A Coca-Cola gorou. A raça se levanta
devagar. Levagar. O ovo. O novo. Tempo transcorrendo no vento e uma sensação de
calor. Uns descem, outros sobem a Avenida Sete, às 9:00 horas de um sábado de
Primavera, no fervor do comércio. O sol. A procura do não se sabe o quê. Do não
se sabe onde. Preço químico dos acrílicos bocejantes nas encostas dos morros. O
rapa expulsou os hippies. Salvador do turismo, como meretriz sorridente, segue
pras bandas da Praça da Sé - pela Rua Chile. Cheiro baiano de África, de
Continente Negro. A manhã - a manha... amores de dendê - de onda do mar - de
areia branca - das madrugadas de Itapuã - de sabor de sal na pele o dia todo.
Uma noite a mais pela frente. A lua
crescendo. Os discos nem sempre silenciam. Mesmo porque (de que adiantaria?)...
os carros cobririam o silêncio. Apartamento é como caixa de som, tem vibração,
tem tudo.
(28.10.1976 – Há 46 anos).
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