As iscas do entretenimento enchem as horas livres. Lembro bem, no
curso ginasial, de um colega que, certa vez, me convidou a visitar uma
biblioteca que existia nas imediações da Praça da Sé, em Crato. Fomos lá no
intervalo do recreio. Na maioria, eram livros místicos, religiosos, sagrados.
Eu que vinha saindo de infância acompanhada por Tia Vanice, irmã de minha mãe
que morou na nossa casa, quando aprendera a rezar o Pai Nosso, a Ave Maria, a
Salve Rainha, e tirávamos o Terço toda noite antes de dormir, naquela hora
queria algo que fosse diferente, algo comum, profano, daquele mundo aonde fora
parar, no Colégio Diocesano. Tempos bem outros, de balbúrdia, questionamentos e
desobediência. E recusei tomar emprestado qualquer daqueles livros que contavam
as histórias de Jesus, dos santos, as narrativas bíblicas, católicos em sua
maioria. Já encontrara romances de massa entre os livros deixados pelo Tio
Alberto na estante de minha mãe. Ela dizia que eram livros de adulto, que
deixasse de ler só depois. Mesmo assim lia escondido, nas horas que achava
oportunidade. Meus primeiros livros haviam sido dados, em sua maioria, pela Tia
Risalva, que contavam de reinos encantados, príncipes, princesas, fantasias
infantis. Entrei, pois, noutro universo, dos livros de adulto, esses realistas,
por vezes violentos, cruéis, cheios de dúvidas, dos desencontros humanos, das
guerras, revoluções, até ler Por quem os
sinos dobram, de Ernest Hemingway, autor americano que me cativou e
procurei outras de suas obras. Também li O
general do rei, da inglesa Daphne du Maurier, um clássico de época que atraiu
minha atenção. Em resumo, buscava correr os riscos que o mundo tinha a
oferecer, independente do que lá adiante sentiria da imensa necessidade em
conhecer a literatura espiritual.
A bem dizer, imaginava serem dispensáveis os esforços de
ordem religiosa, mística, assunto dos padres, das igrejas, no entanto, agora
vejo nisso a importância crucial diante dos desafios que vivo nas grandes
interrogações e esforços posteriores, nas provas deste mundo. Foram tantas as
lutas geradas nas vivências que tive de enfrentar que agora ouço os gritos do
silêncio a ecoar por dentro da alma, por dentro de mim, a estimular o senso da
busca e aprofundamento dos estudos e conhecer de perto as experiências de
muitos que defrontaram o mistério da existência. Pelos livros, compêndios de
largos ensinos, os quais que chegam ao cinema, aos outros meios de comunicação,
eles preenchem dias e dias do alimento de tantos pelas revelações de que somos
partes integrantes. Revelam, assim, nas suas histórias e tradições, segredos
preciosos e úteis aos que anseiam pelas respostas de tudo quanto há noutra
dimensão vasta e inigualável.
E o que seria do nosso passado, da nossa história de vida se não houvesse alguém que nos seus momentos de lazer pesquisasse e colocasse em livros, crônicas, revistas. Os livros tem a capacidade de nos transportar para um passado onde lá estivemos e relembrarmos as nossas memórias. Excelente texto. Parabéns ! E Parabéns pelo Dia do Escritor! 👏👏👏
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