quarta-feira, 12 de outubro de 2022

A casa do que somos


Esse quadrado das nossas experiências, nele o mapa do tesouro. Foram tantos momentos vividos na pauta dos dias que se perdem na estrada, no entanto deparados vez por vez, quando menos esperar. Eles chegam carregados nas memórias inevitáveis, tais termos de comparação do instante atual. Foram nossas quebradas de cara, nossos sucessos, nas paradas do Universo grandioso que tão minúsculos habitamos.

Outro dia, depois de ver um documentário de entrevista com a autor do best-seller A cabana, William P. Young, que existe na Netflix, me veio de volta o longo tempo de minha infância e adolescência quando fomos morar no bairro Pinto Madeira, em Crato, logo que chegamos de Lavras. Uma longa história que permanece inteira dentro de mim. Todos aqueles acontecimentos existem bem reais nas minhas lembranças. Nada perdeu sua atualidade. Qual existissem agora e para sempre, são cenas intermitentes, carregadas das antigas circunstâncias ali experimentadas, naquele período.

Ao autor do livro, essa cabana de que fala significa isto, o território pessoal da alma da gente aonde todos caminham através das vivências adquiridas, acumuladas. Espécie de longa metragem inevitável, mourejam nelas nossas práticas, reações, emoções, a falar bem alto de nós próprios. Qualquer mínimo detalhe insiste sobreviver ao tempo, e guardamos num longo estuário do ser a sequência natural do que fomos e hoje somos.

Era uma casa de dois pavimentos, dormitórios em cima e embaixo, uma escada sombria, varadas, quintal, mangueiras em volta em amplo terreno baldio. Um lugar quase de comum cheio de gente, pois nela também moraram conosco alguns dos irmãos de minha mãe e, depois, um sobrinho de meu pai. Havia sido construída com zelo por Pergentino Silva, um odontólogo de tradicional família da cidade. Ficava um pouco afastada do centro da cidade, no entanto relativamente próxima de nossos afazeres. Existiam poucos automóveis à época. Fazíamos o percurso à escola e ao comércio sem grandes esforços.

Aquele filme fez vir à tona toda jornada que vivi naquela época. E o que mais se evidenciou fica por conta da facilidade com que revi tudo que passara, as situações, pessoas, leituras, fases, conflitos, apreensões, em um processo pouco imaginado. Eu resisti àquilo tudo o que viria formar o movimento posterior desta vida. Numa comparação apressada, nisso trabalhei e continuo trabalhando comigo a seleção dos objetos úteis e tramas achados nos despejos resistentes da memória, os quais aos poucos venho decodificando em ritmo proporcional ao que posso interpretar. Sei, no entanto, que entre esses cacarecos existe como que a vida de mil seres que significam este eu que ora sou, fruto de todas minhas experiências até aqui acumuladas.

Um comentário:

  1. Sei, no entanto, que entre esses cacarecos existem como que a vida de mil seres que significam este eu que ora sou, fruto de todas minhas experiências até aqui acumuladas." Somos assim mesmo , uma soma das nossas experiências vividas, das nossas alegrias, afetos e desafetos , todos fazendo parte do que guardamos em nossas lembranças . Belo texto, parabéns !👏👏👏🙏🙏💫💫

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