Dizem, mas tenho lá minhas dúvidas, que na Holanda houve, no tempo das carruagens, a técnica de expor na frente dos animais de tração uma cenoura pendurada na ponta de uma vara, que os animais acompanhavam pelos caminhos à espera de alcançar sabe-se quando o sabor do alimento. Sei que os animais têm sua inteligência e que, decerto, logo desistiriam de obter um prêmio só imaginário. No entanto isto serve de instrumento do que quero aqui avaliar.
Assim representam as metas imaginárias da corrida humana pelo
sucesso: Cenouras em ponta de varas. Porquanto logo em seguida vêm os
obstáculos do tempo dos humanos, que ficam preso aos relógios e calendários, e
desmancham no passado quais lebres fugitivas nas florestas inexistentes.
Miragens, sucessivas miragens, que acompanhavam inversamente a voragem das
criaturas e sua infinita vontade da felicidade. Horas, anos, milênios de ruínas
largadas em minérios de contradições.
Quer-se crescer, estudar, trabalhar, criar patrimônio,
deixar herança, fabricar mil artifícios e lançá-los nos armazéns das esperanças
tardias. Formar as estradas desse futuro sonhos que passam pelos nossos pés em
velocidade estonteante. Daí essas marcas indeléveis das gerações que restam
gravadas no fojo das consciências por vezes deficientes em valores, virtudes, tratados
na ansiedade e no desespero de agradar aos instintos, às angústias do
desconhecido que nos acompanham no girar dos astros e das idades.
Pedir que não sejam de tal qualidade os tanques do destino
pessoal isto reclama sabedoria, fruto das tantas vidas aqui vividas pelas
contas do mistério de onde viemos, aonde vamos e o que ora fazemos. Sob o crivo
da prudência que pede o mínimo das habilidades, construímos patrimônio eterno
neste mar de angústia das vidas que passam. Artífices, pois, da nossa mesma
criação, trabalhamos os meios que nos são dados como matéria prima dos
pensamentos e sentimentos, quereres, pendores, certezas internas de que
existirá o dia de chegar ao teto da realização do Ser, quando, afinal,
receberemos o galardão de há tanto sustentado nas normas dos humanos corações.
Caro Emerson, suas palavras são afiadas e cirúrgicas. Tal reflexão sobre as coisas que são colocadas em nossas caixolas e de repente percebo que estes imediatismos inventados às vezes me predem a atenção. Grato pela reflexão! 🙏🏿
ResponderExcluirÉ disso que é feita a vida. De buscas, desafios e sonhos.
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