quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Esse eu que não se escreve

 

Aos pedaços, pois, juntamos o senso comum e transformamos em palavras, frases, pensamentos, enquanto o mundo real traspassa a alma e parecemos desconhecer completamente a impossibilidade que temos de fazer desses gestos histórias contadas aos pedaços. São luzeiros os quais insistimos transmitir aos que andam pelos mesmos momentos que a gente, pura intenção de romper as barreiras solitárias dessa cápsula que ocupamos durante alguns lapsos, fugitivos da realidade maior que nos envolve no seu manto tenebroso de momentos fugidios e fases de lua. Nisso transferimos ao leu a vontade imensa de querer dominar o presente e fazer dele algo de outro significado além do que tantos falam e poucos escutam através de literatura, mãe do silêncio absoluto nas bibliotecas largadas ao escuro de prédios imensos, solitários, abandonados.

Isto desse impulso que persistirá depois de todos de agora terem sumido na escuridão das horas que se vão numa velocidade constante. Máquinas de permanecer dentro de si, os humanos transferem à sorte o dever de achar o destino a que vieram. Dormem sobre pedras e fiam o cordão do Infinito com fiapos nascidos nas dores do coração. Padecem da ânsia incontida de permanecer naquilo que nem sabem ainda a que vieram.

Horas a fio, portanto, o texto desliza qual rio de gestos de um eu que nunca desiste de continuar intacto durante as marchas das estações, séculos de consciências esquecidas. Ferem florestas inteiras da ausência, pelejando fixar sementes inesperadas de saudade, sonhos de esperança, quase que também desconhecendo o que sejam, mas que nunca desistem de refazer os planos de salvação que carregam consigo neste mar da vontade sem limite de adormecer nos braços da Eternidade quais seres definitivos que tanto buscaram ser, nas páginas livres dessas histórias que quiseram contar e que lhes escaparam das mãos. Só um laivo de certeza, no entanto, sobrevive na boca seca dos que alimentam a existência que vive para sempre nas entranhas e nos pensamentos.


3 comentários:

  1. Obrigada, amigo, por mais este pedacinho de suas preciosas produções!!

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  2. Boa, serena e profunda reflexão! Sempre é hora de acordar!

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  3. Maravilha rapaz. Você sabe o que faz. Parabéns Emerson.

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