A insistência das palavras de querer vir à tona leva a isto, de dizer por dizer. Conversar consigo mesmo através dos tempos que se foram, das perdidas ilusões. De buscar sentido em tudo, nas nuvens, nas matas, nos bichos... Sair de si bangolando pelas encostas feitos cascalhos largados ao vento. Nessa fome insistente de contar que quer que seja nasce o desejo forte de olhar de frente o tempo e rever os filmes extasiados do passado bem distante, as peças que nos encantaram, os invernos, as frustações, alegrias, escolhas, palavras inúteis, palavras úteis, do que disseram e ficou ali grudado nas paredes e fibras do coração. Os amores esquecidos, machucados de memórias vagas nas lutas cotidianas; chuvas, viagens sem volta no itinerário do esquecimento nesse baralho de muitas noites vazias e dias cheios.
Quando menos espero, lá vem de novo o trecho de vida que me marcou
profundamente. As dores dos tantos partos, das tantas esperanças, voragens e
ansiedades quase que presentes dentro da alma, e nós aqui fora persistindo na
existência desse tudo imenso de letras e sinais adormecidos. Bênção isto de viver,
alimentar o ensejo monumental de achar o sentido das razões que juntamos à mesa
farta do Infinito.
Luas e luas que mudaram os céus e pouco mudaram o Chão. Os
pássaros na faina incessante de criar a trilha sonora das manhãs, das tardes, e
que adormecem ao som dos próprios cantos. De certeza que a vida sustenta
inesquecíveis sonhos, quando o tempo é o
senhor da razão. E que todos marchamos inexoravelmente a um fim útil, ainda
que desde sempre misterioso, arisco, fugaz. Porém que sobreviveremos à custa
disso, de olhar o brilho das estrelas, escutar o coaxar das rãs nos invernos,
perscrutar os valores e prêmios da humana condição. Seres que somos, vazios de encontrar o alento. Luzes que aos poucos acendam a chama da essência de permanecer na busca plena de felicidade.
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