terça-feira, 13 de abril de 2021

Esses messias indecisos


A que viemos aqui... Qual sentido extremo de viver neste chão... A porta do definitivo... Quantas vezes assim de mergulhar e querer saber, no entanto de susto voltam apressados aos afazeres das ausências deste objetivo que olha de longe o movimento da gente. Lá dispersos, agarrados na vegetação das margens, tantos buscam esquecer a que vieram.

Fugir, porém, não consta desse roteiro, porquanto nem aonde fugir existe. E lustram as estradas de rastros incertos, elas, as criaturas. Escrevem milhares de cartas aos céus, definem sonhos de querer o melhor, ordenam as horas de acordo com suas próprias interrogações... Plantam, colhem; vivem, revivem; alimentam desejos de perfeição quais mergulhadores de mares desconhecidos, sem saber jamais nem o que buscam afinal.

Contudo só aguardar, que existe, sim, real finalidade (Sois deuses e não o sabeis, disse Jesus). A todos há essa fatalidade, concretizar o projeto da Criação, mesmo que omitam de si a condição essencial de estar e ser diante dos segredos guardados. Solene imaginar isto, de ser messias em crescimento, até um clímax de maturação. Fortes vínculos nos prendem ao desconhecido, algo religioso, original, astrofísico, eterno...

Desde que aceito no íntimo da solidão cósmica das existências, antes somos isto a improvisar desempenhos no teto das dúvidas, meros experimentadores dos destinos. Arrastar correntes enquanto isso, nas vidas que se sucedem. Quantas e tantas luas e baladas, e filmes, e livros, e encontros, e desencontros, ainda que instrumentos de forças até então abstratas, poderosas, outrossim.

No sol quente das manhãs, ali, gelados por dentro, impera esse instinto de sobreviver aos impactos inevitáveis de um viver provisório. Queremos, todavia, desvendar os enigmas destas horas que projetam cores, luzes, movimentos, pedaços de sentimentos e pensamentos, que desmancham as idades e burilam os corações na forma de uma verdade definitiva, que o seremos para sempre. Somos, pois, a semente do Infinito plantada no mais profundo de nosso ser. Tais fagulhas, significamos o primeiro instante da revelação original.

2 comentários:

  1. "Lá dispersos, agarrados na vegetação das margens, tantos buscam esquecer a que vieram."

    Uma questão e tanto que também me toca. A facilíssima vereda do esquecimento frente ao propósito da vida, do autoconhecimento, do comprometimento consigo mesmo, até; A desvirtuosa banalidade perante ao sagrado, resultado do afastamento da essência e do real sentimento do mundo, tornam turva a visão do homem terreno.

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  2. "Somos a semente do infinito plantada no mais profundo do nosso Ser!"

    Terei encontrado , neste trecho do seu artigo, a resposta à minha indagação :" De onde venho? Pra onde vou?"

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