sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

O poeta do Pai Mané

Recebi agora recente mais um livro de Assis Lima, desta vez Poemas de Riso e Siso. Nascido no município de Crato CE, no Sítio Pai Mané, Francisco Assis de Souza Lima desde sempre se afeiçoou às letras, afã de parentesco próximo que o mantém ligado a isso. Viveu na cidade os transatos dos anos 60, maré de sonhos de geração talvez a última que assim mereceu sonhar nesses tempos nebulosos. Escreve com criticidade e esmero qual dos poucos, nos vindo presentear desta vez com este primor literário.

Peças raras de mergulhos n’alma, o livro de Assis concretiza a intenção de tocar a realidade por flagrantes inspirados e sisudos, no entanto bem humorados, quais os quer, certeiros e perfurantes. Navega fácil nas superfícies do Ser em qualidades profissionais de poeta clínico e místico. Hora nenhuma deixa margem a dúvidas de que conhece as manhas do ofício e se permite brincar nas constatações do inevitável das vaidades humanas. Marulha as circunstâncias do morrer, sempre mantendo na distância regulamentar a tragédia, no entanto longe considerar imprestável o término de aqui viver. 


Poemas de humor fino, longe, contudo, de perder o siso. Risos de mofa quanto ao percurso deste chão, bem no que possa dizer do quanto o cuidado da morte é a vida, e viver com arte o soldo a receber. 

Pelo sincopado dos instantâneos pitorescos, nos brinda em feliz providência, que nisto achou o poeta a pureza das palavras e dos cortes, em viagem surpreendente e saborosa. 

Projeto executado ao mesmo primor do conteúdo, Poemas de riso e siso vem a traços de Lula Wanderley, que desenha as ilustrações da capa e do miolo em harmonia e leveza. Da editora Confraria do Vento, Rio de Janeiro RJ, o trabalho merece destaque pelo tanto de enfeixar arte gráfica esmerada à obra poética.


Assis Lima exerce a medicina psiquiátrica em São Paulo, onde reside. É autor dos livros Conto popular e comunidade narrativa, Poemas arcanos, Marco misterioso, Chão e sonho e Terras de aluvião. E coautor, com Ronaldo Correia de Brito, dos infanto-juvenis Baile do Menino Deus, Bandeira de São João, Arlequim de Carnaval e O pavão misterioso.  

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