domingo, 10 de dezembro de 2017

Célio Silva

Inícios dos anos 60 em Crato, fase de uma cidade típica dos interiores sertanejos. Ruas desertas. Praças movimentadas às noites dos sábados e domingos. Quase livre do trânsito constante das rotinas atuais. Manhãs domingueiras depois da missa das nove. Rodas de conversa nos bares e cafés. Todos conhecendo todos. Notícias só de ouvi dizer. Bem nesse tempo havia os tipos mais populares. Jogadores de futebol. De bilhar, sinuca, carteado, gamão. Os corredores de bicicleta. Caçadores na Serra. As fazedoras de tapioca e beiju. Os curadores de animais. As rezadeiras. Os cirurgiões. Beatos. Valentões. Conquistadores, E os seresteiros. 

Célio Silva era desse grupo, dos seresteiros. Exímio cover, qual dizem hoje, de Chico Alves, o grande nome do cancioneiro nacional da década de 50 que pereceu tragicamente em acidente automobilístico nas estradas do Sul. Seu talento e sua perda marcariam com profunda intensidade a memória dos brasileiros de então. Ele aqui, e Carlos Gardel na Argentina, ambos quais missionários da música de sentimento saudoso, inclusive de aparência bem assemelhada, de terno e gravata, riso forte na face, olhos intensos e cabelos escorridos à brilhantina. Trágicos fins que tocariam na alma dos dois povos.

E Célio Silva, ou Expedito Mago, apelido de antes da música, investiu todo seu fervor artístico em cantar as canções de Francisco Alves, às quais dava qualidade por demais comparável ao que mostram as gravações de Chico Viola. Cantava nas praças e ruas noturnas, em serestas apreciáveis, quase de comum à base das bebidas fortes e em grupos de outros cantores, vindo também aos programas de auditório, primeiro, da Rádio Araripe, inícios daquela década, e Rádio Educadora, já aos seus finais. 

Lembro dele, das vezes quando lhe encontrava nas ruas, cabelos também penteados ao estilo do ídolo e a falar assemelhado aos cariocas, onde vivera o menestrel ao sucesso dos anos dourados, qual denominam. Adoentado, lá um dia o apresentador de um programa de calouros da Rádio Educadora daria a notícia do desparecimento dele, mas logo seria informado pelo próprio filho de Célio Silva que este ainda estava vivo, e de casa assistia pelo rádio a programação da emissora. 

Pelas comunas da interlândia, em tudo quanto é canto, existe profusão de tipos assim, dotados de humanidade simples e vocação espontânea, marcas inolvidáveis da história das criaturas humanos, neste mundo de tanta beleza.

Um comentário:

  1. Este perfil é comum nos interiores do Ceará. Vez por outra escutava -se uma música nas madrugadas a encantar alguma dama...saudosismo...

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