quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

O lado da sombra

Quem vive corre perigo. Por mais se ache acima do bem e do mal, mora tão só um dedo abaixo dos riscos deste mundo frágil. Guarda as proporções até quando reage do jeito menos previsto, e mete os pés pelas mãos, e mata, e morre. Verniz de pudor e perfeição, diante das provocações, aí descobre o quanto guardava dos velhos trastes imundos de antigamente no peito de sete chaves. São as guerras, os embates cruciais nas noites de angústia dos guardiões da luz. Vilões da sombra, entram em cena e mordem agressivos os mocinhos da normalidade democrática e detonam chacinas, vulcões e circunstâncias. Mocinhas honestas, honradas, bem comportadas, restam desnudas sujeitas a tribunais de línguas sujas, quais livres antes fossem de todas as contradições. 


Pudessem apenas mudar, e pronto viveriam mar de felicidade. Porém circunscrevem variações sem conta no decorrer das idades. Diversas fases da divindade pessoal significam, pois, aprendizados constantes, vez que a sombra ocupa o outro lado de si mesmo, vizinha de quarto e parceira de cama dos mortais. A sombra de vez em quando põe de fora as garras e fere o paladino da paz, um herói bem quisto, isento de qualquer suspeita, porém objeto de iguais limitações. Ninguém conhece ninguém, nem a si próprio.

A sombra, esse lado escuro da realidade interna das criaturas, repousa calada no colo das primeiras damas e representa o tratado de boa convivência dos céus na amabilidade dos humanos. Enrosca a cauda, no entanto, no cerne da individualidade, porquanto raros, eles, os santos, resolvem confrontar o tentador do alto das torres dos templos, e postular lugares sagrados no astral da bondade absoluta. Raros, raríssimos, os santos, saem vitoriosos.

Contudo ora desliza o comboio da claridade ao sabor dos mortais que somos. Transcorre bem aqui de junto o trilho da virtude, neste mar das oportunidades. Quem dá mais, quem dá mais: a sombra ou a luz? Quem dos dois há de vencer o temporal das horas certas desta geração?!

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