sábado, 28 de janeiro de 2017

Brincar de terrorista

Essa foi a primeira das ideias de brincadeira com que, reunidos na casa de madeira, os meninos do Condomínio resolviam iniciar o movimento da tarde. Em cinco ou seis, os dispositivos que eles dispunham, quatro bicicletas e as próprias camisas de meia com que envolveram o rosto, deixavam de fora quase que apenas os olhos, olhos assustados, queimados nos equipamentos eletrônicos. Largavam à margem compreender que já conheciam, eles de 10 a 12 anos, a lojista das guerras das ruas nos dias atuais. Ali ao lado, outros três meninos, acomodados num dos bancos do sombreado, prendiam a atenção em um celular e nalgum jogo de defesa e perseguição.


E logo lá fora o ritmo incessante das faixas da avenida em alta velocidade, clima de pura voltagem, a lembrar circos e globos da morte com cinco motos a se entrecruzarem nas frações de segundo e destino incerto dessa mundo ainda troncho. Tudo pelos detalhes mínimos, e pescadores que, ao saber disso, dão um tempo ao peixe e um tempo aos anzóis, na mesma tarde a distância de poucos passos.

Ah, dalgumas nuvens, o céu fala de urgências mil no coração daquelas crianças sadias e suas brincadeiras perigosas de fazer de conta que tudo não irá além do mal entendido de assassinar a esperança de tantos jovens nos becos escuros das madrugadas cinzas. Que dizer, que fazer, que sirva de lenitivo, de resposta, a quanto de desamor ronda o universo das pessoas dentro das horas que voam?! O que contar nos livros dos antigos testamentos no futuro?! Quais dúvidas haver vencido deliberadamente na consciência espúria de quem chega ao poder no intento de transformar a vida numa moeda passível de uso comum e falham?!

O vento frio do escurecer reacendeu a vontade daquela gente que decerto buscará paz e alegria invés de guerra, e construirá o berço da nova humanidade dentro de outros jogos de fraternidade e amor... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário